31.3.11

Pra não precisar pular a catraca

Mobilidade urbana é um tema tão discutido aqui em Florianópolis que pensei que o projeto "Cidade Ideia" estava na cidade errada. O autor da iniciativa é o arquiteto Diogo Pires Ferreira, ludovicense como eu, mestrando em Urbanismo numa universidade de Barcelona que fez todo um estudo sobre o atual sistema de transporte público em São Luís, identificou as falhas e também a real necessidade da população. Só aí percebi que o problema de ônibus lá é bem pior que o daqui de Floripa. Sinceramente, pegar a lotação aqui é mais tranquilo. Mesmo pagando 2,95 sem o cartão de estudante. E olha que a passagem já vai subir de novo. O importante é que Diogo também pensou nas soluções para os problemas dos latões maranhenses e propõe um sistema que alimente a cidade de tal forma que, a partir de qualquer ponto, a população tenha acesso ao transporte público caminhando apenas por cinco minutos. Isso pra mim parece um sonho, considerando que eu moro bem no meio de uma curva, bem no meio de dois pontos de ônibus e devo levar mais tempo que isso para chegar em qualquer um dos dois.

O vídeo de divulgação do projeto é muito legal, vale dar uma conferida:


O projeto ainda está concorrendo no concurso Ciudads Activas, Ciudads Saludables. Clique AQUI para votar e contribuir com essa iniciativa belíssima!

Para mais informações: Cidade Ideia.

29.3.11

Vôterana

Chega aquele momento super empolgante que falo sobre o início do semestre e as disciplinas novas, deixando de fora a parte super chata que são os novos calouros e festas universitárias de quarta a domingo. É, gente, quinto semestre, meus calouros têm calouros, sou vó e faltam dois anos de graduação! Deveria fazer cinco matérias obrigatórias, mas estou só com duas. Uma foi adiantada ano passado e resolvi atrasar as outras duas porque andava meio desestimulada com o curso. Esses professores eram ruins e minha situação só ia piorar. E assim também pude me encher de disciplinas optativas.

Teoria da comunicação II (opt)
Me despedi do ano passado falando que "Adorno nunca mais", mas me matriculei nessa matéria, que é continuação daquela que me fez ler esse alemão querido. Tudo isso porque o professor é realmente bom e não podia perder de ganhar o conhecimento que ele tem pra passar pra gente. Vamos estudar uns textos aleatórios tipo Freud, Lévy, Bordieu, entre outros. Começamos falando sobre moderninade e pós-modernidade, a aula de ontem foi sobre interpretações do livro Fausto, de Goethe. Muito amor.

Teoria do jornalismo (obg)
O professor dá uma aula meio monótona, mas o assunto é interessante. Melhor que estudar as teorias da comunicação, que é um tema muito amplo, é estudar o que está mais próximo da gente. As aulas tendem a melhorar porque ainda estamos naquela velha introdução sobre jornalismo (calouros feelings).

Antropologia social I (opt)
Roubada do curso de Serviço Social, é ministrada por uma argentina engraçada que fala portunhol. Essa disciplina é muito "aprenda o que é antropologia", com uma carga leve de leitura e discussões interessantes sobre cultura, preconceito e racismo. Ah, minha vontade de ciências sociais...

Jornalismo econômico (opt)
Quem dá essa aula é um professor visitante da UnB super legal que propõe discussões pertinentes e sugere textos ótimos. Sempre tive vontade de conhecer essa área e não vejo a hora de me familiarizar com conceitos básicos de economia e entender mais um pouco sobre.

Redação V (obg)
Provavelmente vai ser uma das redações mais divertidas do curso, vamos deixar a notícia clássica de lado e enveredar pra reportagens mais elaboradas, perfis, crônicas (quem sabe) e produzir uma revista-laboratório no final do semestre com nossos textos e diagramação (oba!). O que me amedronta é parte da avaliação: conseguir uma nota exclusiva! Onde, josé?!

Telejornalismo II (opt)
Professor novo no curso, louco e carioca, tem experiência como correspondente internacional... Meio pirado, faz umas piadas idiotas, fala e se repete pelos cotovelos, mas na parte prática da aula sempre dá um jeito de não nos deixar desistir da disciplina (eu e minha amiga pensamos isso toda quinta-feira). Aula intimista só com seis pessoas (que nem a de teoria da comunicação, na verdade).

26.3.11

A dialética perdida

A leitura de O dia em que Getúlio matou Allende tá bem devagar por causa de todo o frisson de início das aulas, mudanças de estágio e festas universitárias. Confesso que também tive preguiça do livro com a parte longa destinada a Getúlio Vargas e todas suas relações de poder. Uma coisa é Capote descrevendo a personalidade e até adivinhando os pensamentos dos assassinos em A sangue frio, outra é um jornalista que nunca tinha ouvido falar antes dizendo o que diabos Getúlio pensou e fez nos momentos antes do suicídio. Tive preguiça. De qualquer forma, a leitura está sendo uma revisão boa de parte da história política brasileira. Quero só ver a parte internacional com Che, Perón, Stalin e outros. E descobrir o que Frida Kahlo faz aí no meio.

"As gerações de hoje talvez tenham dificuldade em entender como o país inteiro apaixonou-se pela discussão política, meio século atrás, e como, no debate de ontem, a palavra tinha tanto poder. Hoje, as ideias políticas foram substituídas pelas imagens criadas pelas agências de publicidade, o debate político desapareceu e tudo é encenado, artificialmente recitado. Ou induzido através do subterfúgio da imagem colorida, preparada e gravada em estúdios de propaganda. Assoprado, enfim. Hoje, na televisão, no rádio ou nos jornais, quem aparece dizendo o que diz, de fato, nada diz porque apenas lê o que os outros escreveram. Agora vendem-se hábitos de consumo e é igual 'vender' o hábito de consumir um detergente ou um partido político ou um candidato.

O debate político é, hoje, quase tão-só uma simulação ou um simulacro da palavra, diferente de 1954, ou até dos seguintes anos 60, quando o peso das decisões residia no argumento ou na dialética exposta sem encenação. Agora, nem se sabe o que é dialética, e o termo soa distante, perdido nos dicionários..."

23.3.11

Bons brasileiros


Quinta-feira da primeira semana do semestre mais teórico até agora do meu curso. O Cachorro Grande me tirou de casa porque eu já estava de ingresso comprado e devia isso para a Luisa de 14 ou 15 anos que ouvia algumas músicas deles em loop, mesmo que só as músicas famosinhas. O local era o mesmo do Vanguart e eu só conseguia pensar que estaria infinitamente mais empolgada caso fosse observar a pinta do Hélio Flandres e o cafa do Reginaldo, aquele que traiu a Clarah Averbuck em rede nacional.

Éramos um dos poucos jovens do John Bull, todos cansados e bocejantes, tomando heineken devagarinho enquanto o show atrasava mais nosso sono. Ainda com o gosto de álcool puro da tiquira roxa e maranhense, batíamos papo e identificamos o único cara interessante da casa. Claramente porque assisti ao filme Malu de Bicicleta no domingo anterior, ele me lembrava o Luís. O Luísh. O filme é uma merda, mas esse personagem vale a pena no livro do Rubens Paiva.

Movimentação perto do palco, saquei meus óculos da bolsa e lá estava o Cachorro Grande na minha frente. Eu que achava que nunca poderia assistir a um show deles, enquanto minha amiga do interior daqui pagava cinco pilas e via o Beto Bruno de boa. Até hoje não aprendi a cantar nem Cachaça, então só observava os integrantes, o Luísh do show, como ele conhecia todas as músicas, como minha amiga só conhecia a das antigas. E aí o Beto Bruno ficou louco, sumia do palco, o guitarrista teve que fazer um solo de mais de dez minutos para cobrir uma fuga do vocalista. Sinceramente foi o grand finale, depois dela um cover que nem me lembro mais. No single mais famoso deles, esqueci meus amigos. Também não fiquei só com o Cachorro Grande. Era eu, a Luisa universitária, e a Luisa de catorze sentada à frente daquele desktop jurássico ouvindo aquela música como numa montanha-russa, até chorei algumas vezes com ela naquela época. Mas não deu tempo da Luisa mais novinha me contar por quem eu ouvia aquela música, a conexão falhou, aquela tiquira não ia deixar barato pra minha memória.

17.3.11

Te conheço, carnaval

Cada um com sua caneca. Banhos involuntários de cerveja. Não dava pra pedir desculpa toda vez que você molhava alguém/esbarrava/pisava no pé bonito. Foi assim que pulei carnaval. No final da quinta noite open bar, o clube tinha um cheiro bem agradável de chulé, sensação privada das minhas narinas graças à quantidade de cloridrato da nafazolina que já ingeri nessa vida. Meu all star branco foi parar no lixo. E, sinceramente, não sou mais uma voz do discurso blogueiro contra as festas de carnaval. Quem curte minimamente sair pra festas e etc, tem que ir, precisa se jogar e ver qualé. Esse não é o seu caso se você não gosta nem dos churrascos da turma, ainda mais aqueles apenas com pão e linguiça.

Não bebi dessa caipirinha, minha gente

Infelizmente, faltou bastante axé no meu carnaval, já que tocou pagode demais, eletrônica demais e músicas de formatura. Menina veneno, o mundo é pequeno demais pra nós dois. Imagine 659 jovens (por que não uma lotação de 660 ou 700 logo?) de diferentes abadás, numa festa open e ouvindo esse clássico.

O cansaço pós-carnaval foi tanto que só hoje tive coragem de postar, ainda não ousei pensar no próximo, mas já cogito ir também para a primeira micareta. De resto, não aprendi a andar direito em Joaçaba, interior do estado. Até hoje tenho pesadelos com a roldana de varal enferrujada que ficava ao lado do meu quarto do hotel, utilizada pela manhã, no auge da nossa ressaca. Beleza.

Se me arrependo de ter fugido do nordeste logo no primeiro carnaval pulado? Logo eu, a nordestina, a regionalista? Vou te contar, nada melhor que escapar da maizena que as pessoas ainda jogam umas nas outras.

"Melhor parar de enrolar e dizer que, na verdade, não gosto do carnaval daqui. Nem sei se gosto desse alvoroço todo do carnaval. Sei que as pessoas têm gostos diferentes mas acho estranho ver pessoas que convivem comigo saindo e se divertindo nessas tais festas carnavalescas", afirmou esta que vos posta há três anos.

3.3.11

Dois beijinhos

Se tem uma diferença cultural que me irrita é essa: por que em alguns estados cumprimentamos pessoas com dois beijinhos (Maranhão) e em outros nos contentamos com um (Santa Catarina)?! O resultado disso é que em São Luís deixo as pessoas no vácuo dando apenas um beijo e, quando volto a Floripa, sou eu quem fico no vácuo. Triste.

Deixei os camarões, os caranguejos, o peixe frito da praia do meio, a melhor farinha do mundo, a carne de sol, o sorvete de tapioca, todas as comidas maranhenses deliciosas e voei de volta pra terras catarinenses. Quem tiver a sorte de pousar em Floripa durante o dia, controle o sono e não faça como eu, que adormeci a aterrissagem inteira e perdi a vista bonita. Deixei também a família que me mata de saudades e os poucos amigos. E eu bem que poderia sair com esses poucos amigos por mais dois meses. Lucky, meu poodle, está deprimido porque sente minha falta (mentira de mamãe, aposto) e tenta sentir meu cheiro quando se apoia na varanda e se delicia com os cheiros da cidade inteira.

Pular ou não pular? Eis a questão.