26.3.11

A dialética perdida

A leitura de O dia em que Getúlio matou Allende tá bem devagar por causa de todo o frisson de início das aulas, mudanças de estágio e festas universitárias. Confesso que também tive preguiça do livro com a parte longa destinada a Getúlio Vargas e todas suas relações de poder. Uma coisa é Capote descrevendo a personalidade e até adivinhando os pensamentos dos assassinos em A sangue frio, outra é um jornalista que nunca tinha ouvido falar antes dizendo o que diabos Getúlio pensou e fez nos momentos antes do suicídio. Tive preguiça. De qualquer forma, a leitura está sendo uma revisão boa de parte da história política brasileira. Quero só ver a parte internacional com Che, Perón, Stalin e outros. E descobrir o que Frida Kahlo faz aí no meio.

"As gerações de hoje talvez tenham dificuldade em entender como o país inteiro apaixonou-se pela discussão política, meio século atrás, e como, no debate de ontem, a palavra tinha tanto poder. Hoje, as ideias políticas foram substituídas pelas imagens criadas pelas agências de publicidade, o debate político desapareceu e tudo é encenado, artificialmente recitado. Ou induzido através do subterfúgio da imagem colorida, preparada e gravada em estúdios de propaganda. Assoprado, enfim. Hoje, na televisão, no rádio ou nos jornais, quem aparece dizendo o que diz, de fato, nada diz porque apenas lê o que os outros escreveram. Agora vendem-se hábitos de consumo e é igual 'vender' o hábito de consumir um detergente ou um partido político ou um candidato.

O debate político é, hoje, quase tão-só uma simulação ou um simulacro da palavra, diferente de 1954, ou até dos seguintes anos 60, quando o peso das decisões residia no argumento ou na dialética exposta sem encenação. Agora, nem se sabe o que é dialética, e o termo soa distante, perdido nos dicionários..."

Um comentário:

Anônimo disse...

Livros de política estão no topo das minhas escolhas menos preferidas. Uma vez comecei a ler "Ministério do Silêncio", achei legal o assunto que ele abordava, mas a leitura era muito cansativa. Desisti.

Capote escreve tudo de um jeito mais "leve", compreensível e interessante. Exceções à parte, não entendo a razão de tudo ser tão sério (e chato) nos livros sobre política...