24.11.10

Atrás de uma grade, no berçário

Bastidores sobre minha reportagem que fala de gravidez no presídio, num relato mais objetivo, para o blog do Quatro, jornal-laboratório produzido em Redação IV:

"Apesar de todas as piadinhas feitas pelos colegas, pelo professor e até pelas agentes prisionais para cuidarmos de não ficarmos presas e ficarmos o final de semana com as detentas, passar aquela tarde com aquelas mães foi no mínimo curioso. Não sei se dá para falar de uma situação agradável num presídio. No final, parecíamos todas amigas conversando sobre vários assuntos ao mesmo tempo (difícil era anotar as informações importantes que apareciam). Até a agente prisional, que entrava no berçário para ver como estava a conversa e depois saía para 'deixar as presas falarem o que queriam'." Continue lendo.

Os outros bastidores também estão ótimos, leiam >> Blog do 4.

Moleskine online

Gosto de comparar o mamãe e meu padrasto com meu último relacionamento. Depois dessa briga de ontem, minha irmã, que mora/morava com eles, ficou fragilizada e mamãe se mostra sem perspectivas de uma volta. Eu, fico na mesma posição de sempre. Queria respostas. Queria saber logo o que que vai acontecer. Que quadro vou encontrar quando chegar em casa lá pelo dia 20 de dezembro (é, minha passagem ainda não foi comprada). O que muito me faltou nessa vida foi paciência. Palavrinha que não existe na minha cabeça. Por isso sou tão ansiosa, tenho tanta pressa e acabo ficando perdida.

Nos últimos (vinte) dias, eu realmente me sinto mais leve, pareço um pouco mais calma, mais consciente. E enxergo a beleza/felicidade em momentos como o de escutar a máquina de lavar trabalhando (lavar jeans na mão nunca mais) e estender as roupas nos varais improvisados de quem mora num apartamento sem varanda e precisa aproveitar o vento e o sol que entra pelas janelas.

Devia organizar meus pensamentos no moleskine que eu comprei e está quase em branco, mas odeio minha letra cursiva.

15.11.10

Jornalismo galã

Contém spoilers.
O quarto poder. Mad City. 1997. Dustin Hoffman <3 é um repórter de TV que vai cobrir uma pauta fraca no Museu de História Natural da Califórnia e acaba testemunhando o ex-segurança, John Travolta, pedir o emprego de volta, ameaçando sua ex-chefe e atirando acidentalmente no outro segurança do lugar. O filme pretende discutir o papel da mídia numa situação em que o jornalista tenta manipular as ações de um homem que acaba fazendo um grupo de crianças, que visitavam o museu, reféns. E, sabe, seria uma boa crítica se O quarto poder não fosse carregado de esteriótipos. Os elementos do jornalismo precisavam aparecer de maneira mais sutil, parece tudo muito forçado. Desde Hoffman pedindo que sua assistente seja mais sensacionalista, a repórter foca fazendo de tudo para agradar o figurão de TV nacional que chega para acompanhar a história até o final quando Hoffman, cercado com milhares de jornalistas, microfones e câmeras grita "We killed him" até a imagem congelar e os créditos subirem.

Outros filmes que vi sobre jornalismo recentemente foram Cidadão Kane e Todos os homens do presidente. Citizen Kane valeu à pena por ser um clássico, mas chega a ser irritante de tão lento. Preferia que o filme contasse mais sobre o jornal Inquirer do que a vida do seu dono, que nem foi tão interessante assim. E se todos os filmes tivessem smartphones?

All the president's men, filme onipresente na minha vida por causa do Dustin Hoffman e pelo pôster pendurado na parede da escada que eu subo todo dia pra ir ao estágio, é melhor. Hoffman está sem graça e com um cabelo que o deixa parecendo um salsicha (o cachorro mesmo), mas a aula de jornalismo é válida. O filme conta a investigação do caso Watergate, que derrubou Nixon.

Frisbee em novembro

Minha amiga galêga e eu estávamos atravessando apressadas o campus da UFSC no final de tarde ensolarado de quarta-feira para pegarmos a gráfica ainda aberta e imprimirmos nossos jornais-murais. Todo aquele bom humor de quem havia passado a tarde inteira revisando o trabalho e terminando os últimos detalhes para descobrirmos vários errinhos na primeira impressão.

Acontece é que no gramado ao lado do Templo Ecumênico, perto das duas únicas araucárias da universidade, tinha um pessoal jogando frisbee. Frisbee. No Brasil. Numa quarta-feira. Num novembro. Num final de semestre.

Eles tinham cara de engenheiros. Só podiam ser engenheiros. Raça que fica de bobeira na fila do RU assando linguiças para fazer propaganda da festa Linguição da Automação e ainda tem a coragem de falar que estudantes de jornalismo não fazem nada (um aspira a engenheiro mecânico me disse isso na balada, teria pisado nele com salto se não tivesse deixado a sandália que queria usar naquele dia em São Luís).

E agora que o download do filme The virgin suicides completou, sabe o que eu vou fazer? Terminar minha parte da monografia em grupo sobre democratização da comunicação. Daniel Hertz, um dos fundadores do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação e também do curso de Jornalismo da UFSC (ele é muito onipresente), mandou um beijo!

14.11.10

Defina solidão

Não digo que desistiria do projeto Floripa se tivesse parado pra pensar em como seriam meus feriados antes, mas ficaria bem balançada. Finais de semana com três ou quatro dias são a oportunidade dos meus amigos viajarem pra casa e eu aqui, parando de tomar coca-cola pra melhorar do refluxo e piorar tudo de novo quando beber guaraná jesus nas férias. Essas folgas são ótimas no final do semestre pra conseguir fazer todos os trabalhos - que seriam impossíveis em semanas normais -, mas quem disse que eu faço alguma coisa útil? Assisto a um ou outro filme aleatório e penso demais na vida. Por que não me mudei pra um lugar mais perto? Por que escolhi isso? Meu discurso amo-Florianópolis é inútil numa hora dessas quando eu olho no espelho e ele grita pra mim: defina solidão. Pra melhorar a minha vida, odiei meu corte de cabelo. Fios na altura do ombro, onde eu tava com a cabeça? Mais uma ação precipitada das últimas semanas.

Para ouvir: Away with murder-- Camera Obscura.

10.11.10

O Parcial

Eis que eu começo a ver a luz no final do semestre, talvez até tenha férias algum dia. Terminei hoje - e já imprimi, afinal, é pra amanhã - o meu jornal-mural, trabalho final para a disciplina Edição. É para o mesmo professor que pediu a revista que eu diagramei semestre passado.

Temos que fazer esse jornal-mural, de duas folhas A3, sobre um livro. Escolhi o meu antes mesmo dele passar a lista - a maioria de jornalismo investigativo - porque não ia perder a oportunidade de finalmente ler Honoráveis bandidos e fazer algumas matérias sobre minha terra onde cantam os sabiás. Planejava fazer uma página a mais para fazer as pautas que o professor queria e as que eu não poderia deixar de lado. Acabei procrastinando e cortei um monte de coisa, inclusive deixei de usar algumas entrevistas e saiu isso!


A matéria principal é obrigatoriamente a resenha do livro escolhido e as outras funcionam como correlatas. Falei sobre as eleições para governador do Maranhão esse ano, um exemplo de como é a política no interior do estado (São Domingos do Azeitão, where?), a ação de Fernando Sarney que estabelece a censura no Estadão (há 467 dias), a entrevista com Palmério Dória (impossível editar e ainda ficou gigante!) e um panorama da mídia maranhense.

O logo foi a primeira ideia que eu tive em todo o jornal-mural. Achei meio absurda, mas amigos me convenceram a seguir com ela. O que salvou meu projeto gráfico foi a forma do Congresso Nacional para me livrar logo dos dois box obrigatórios que deveríamos usar.

O nome faz uma brincadeira com o nome de um dos jornais de São Luís (O Imparcial, que nem é da família Sarney, mas tudo bem). Sem contar que o Palmério sempre fala em entrevistas, menos na que fiz com ele, que ele queria abrir um jornal O Parcial para poder dar seu ponto de vista livremente. Além disso, a parcialidade brinca muito com o fato do livro contar falcatruas de todo o Brasil e 99,9% das minhas pautas serem sobre o Maranhão, mas eu tinha que puxar sardinha.

Fico triste porque não consegui entrevista com um Sarney - meus contatos são fracos -, mas entrevistei Flávio Dino, segundo colocado na disputa para governador do Maranhão com quase 30% dos votos. Falei com o deputado federal por intermédio da madrinha da minha irmã, nada mais maranhense!

p.s.: Acha que acabou? Agora só tenho que diagramar o jornal-laboratório Quatro, feito por toda a turma, uma reportagem infográfica, uma monografia em grupo e um site, que otimista!

6.11.10

Nunca participei de um clube do livro

Jane Austen é definitivamente um nome que falta na minha lista de leituras. Ela parece ser a Isabel Allende inglesa. Já assisti a umas duas adaptações de livros dela e recentemente vi The Jane Austen Book Clube. Nesse filme, criei uma simpatia com Emily Blunt, atriz chata em The Young Victoria e aleatória em O Diabo Veste Prada.


Uma cena que me marcou não foi da trama professorinha de francês que nunca foi a Paris, mas da jovem lésbica. O motivo que a leva a terminar o relacionamento com a escritora de cabelos enrolados é que a literata andava escrevendo contos sobre a vida da namorada. Oi? Nunca entendi esse tipo de problema. Já é clichê de filme com personagens escritores. O escritor(a) anda sem inspiração, conhece alguém incrível e inspirador, daí pronto. Escreve algo, esconde e o amante dá um jeito de descobrir. Quer escrever sobre mim, amigo? Vai lá, seja feliz. Não precisa esconder, se eu for interessante, pode botar tudo no papel, eu não ficaria chateada. A vida ainda seria minha, aquele passado seria meu. De qualquer forma, ainda ia ter algum detalhe que eu teria omitido, uma sensação que vai ficar só pra mim. Ainda é minha história, única. Também pensei no relacionamento de repórter e fonte. Se todas as fontes resolvessem reclamar de serem expostas pelos jornalistas... Não faz sentido. Tudo bem que, quando conversamos com entrevistados, eles têm noção de que aquilo vai a público. Jornalista é sempre jornalista. Escritor é sempre escritor. 

Pelo que eu lembro, a trilha sonora é descoladinha, mas fui uma música que eu já conhecia que chamou minha atenção. Tenho uns três cds de Feist aqui, mas os escuto aleatoriamente. Tanto que eu demorei umas duas semanas pra reconhecer a música do filme aqui no notebook, já que não quis quebrar a magia buscando no google. E foi num dia certo, mas um pouco atrasado, que a música tocou no aleatório do media player. 

"I'm sorry, two words. I always think after you're gone. When I realize that I was acting all wrong. So selfish, two words that could describe old actions of mine when patience is in short suply. We don't need to say goodbye. We don't need to fight e cry. Oh we, we could hold each other tight. Tonight."

A música me encontrou num momento em que ela descrevia tudo o que eu sentia, mas que, baby, it's too late, too late, too late for love. Quando consegui chorar, foi ao som de Feist. E lembrei da Emily Blunt que também chorava o casamento infeliz. Nossas histórias acabaram diferentes.

Para ouvir: So sorry - Feist.

Like a riot

Ana Cristina tem 20 anos. Sobrancelha bem feita e unhas cor-de-rosa. Grávida de quatro meses de um menino e presa há quase o mesmo tempo. Tráfico de drogas. O marido continua com ela. Não se falam pelo telefone, mas toda quinta ele vai ao Presídio Feminino de Florianópolis visitá-la. Ai dele se faltar uma visita. Ele troca o turno da manhã pelo da tarde de 15 em 15 dias quando o casal têm direito à visita íntima. Ana Cristina prefere não pensar no que o marido faz no mundo. Ele não vai à praia, fica em casa vendo novela. No fundo, sabe que ele não é assim comportado, mas ignora.

20 anos. Mais nova que algumas amigas minhas, que a minha própria irmã. E tá lá, grávida e presa, falando com maturidade sobre relacionamentos. E tem gente aqui fora, um ano mais nova, sem nunca ter engravidado (ainda bem) e que não sabe o que fazer com um relacionamento de 1 ano e 2 meses.

Visitei o presídio feminino para uma reportagem do jornal-laboratório Quatro, projeto final da disciplina de Redação IV. O tema do jornal é "sexo" (odiei a "palavra-chave", porque a maioria das pautas são chatas e clichês) e minha matéria ficou sobre mães e grávidas no presídio. Depois de uma semana negociando pelo telefone com a chefe de segurança, ofícios e tudo mais, eu e a fotógrafa entramos lá e entrevistamos as 2 mães e três grávidas. Foram umas duas horas de conversa, elas perderam a timidez (eu também) e no final já estavam posando para as fotos. Foda foi que não me deixaram entrar com gravador (não pergunte, já que conseguimos entrar com câmera) e vai ser difícil fazer essa matéria de uns 6 mil caracteres só com minhas anotações e a memória "ajudando".

Para ouvir: Lisztomania - Phoenix.