26.2.11

Meeting Jane



Finalmente não sou mais uma virgem de Jane Austen (obrigada de novo, submarino). O primeiro foi Razão e sensibilidade e achei o máximo gostar tanto de ler algo tão diferente de mim, todo aquele clima de campo, o interior da Inglaterra no século XIX (acertei?), mulheres querendo se casar e etc. Esse livro é muito, muito calmo e eu me perguntava como Jane conseguia escrever tão bem e tanto com pouquíssimos personagens, cada passo mínimo que eles davam era analisado sem ficar chato.

Em seguida, veio Orgulho e preconceito e foi nesse clássico que descobri personagens tão ricos, diálogos incríveis e que o Mr. Darcy realmente é apaixonante. Mas, na verdade, o meu personagem preferido é o Mr. Bennet. E o que eu mais adorava na leitura era perceber como Jane dava uma acelerada no tempo da narrativa com a maior graça.

"O tempo de espera agora dobrara. Teria de esperar mais quatro semanas até a chegada dos tios. Mas o tempo passou e o sr. e a sra. Gardiner, com seus quatro filhos, finalmente apareceram em Loungbourn."

24.2.11

O melhor, o maior, o único!

O que uma matéria do Diário de Pernambuco e um livro de uma professora e historiadora maranhense têm em comum? A melhor reportagem do mundo foi publicada no caderno Aurora de 20 de fevereiro (também odeio ler em formato revistinha, mas vale a pena) e trata do ufanismo, da fanfarronice e megalomania pernambucana. Porque, afinal, o estado recebe vários elogios de ser o único, o melhor, o maior e o primeiro. Vale destacar esses trechos:

"Ufanismo tem uma função social superimportante de autoafirmação e de construção da identidade. Quem está embaixo quer ir para cima. E no discurso só se consegue isso levantando seu moral e dizendo que tudo o que você faz é maior ou melhor. É quando você diz, por exemplo, que a música de Chico Science é a melhor do mundo."

"Fanfarronice é quando a gente diz que o Recife é o lugar onde rios Capibaribe e Beberibe se juntam pra formar o Oceano Atlântico. Essa é uma ideia sofismática, que tem uma base lógica. Mas é uma lógica que é feita para causar uma resposta que não é verdadeira. É uma mentira."

"Megalomania é quando você quer ser maior do que é. O cara faz acreditando que é verdadeiro. É quando alguém diz que a Avenida Caxangá é a maior em linha reta do mundo. É algo patológico, que a gente cria. É uma macaquice que a gente utiliza pra rir da gente mesmo."

Essa reportagem me lembrou do livro A fundação francesa de São Luís e seus mitos, encontrado muito por acaso na melhor livraria da cidade (Leiamundo, no Jaracati Shopping). A gente comemora o aniversário da cidade em 8 de setembro de 1612 e se vangloria a única capital fundada por franceses. Mas a questão é: o que os franceses fizeram aqui? No dia da "fundação" foi apenas rezada uma missa em cerimônia da posse das terras. Além disso, não se sabe nem se os franceses tinham a intenção de construir a capital da França Equinocial aqui em São Luís. Nos dois anos que ficaram aqui, viviam em acampamentos. O próprio forte São Luís (que deu origem ao nome da cidade e hoje é o Palácio dos Leões, sede do governo) começou como uma estrutura improvisada que aproveitava os rochedos do local. A partir do estudo de documentos históricos e cartas, a professora Maria de Lourdes Lauande Lacroix (ufa!) mostra como os franceses passaram de invasores a fundadores da cidade na memória maranhense.

Ela aponta a crise econômica desde o final do século XIX como causadora de uma fuga orientada para a mitificação do passado: Tendo a perspectiva da "decadência" como matriz cultural e voltando-se para a definição dos traços da "singularidade" regional, as "elites decadentistas" construíram a imagem da capital evocando a Grécia clássica, pela utilização renovada do epíteto Atenas Brasileira, e a França moderna, através da mitologia da fundação.

Essa leitura me abriu os olhos pra maior contradição ludovicense: nos achamos pela fundação francesa e por nossos casarões portugueses com azulejos portugueses no nosso centro histórico traçado pelo português Jerônimo de Albuquerque, que expulsou os franceses daqui. Curioso que hoje Jerônimo de Albuquerque e o francês Daniel de La Touche, que liderou a invasão, se encontram num nos maiores cruzamentos por essas bandas da cidade. Nem o elevado da Cohama resolve mais o engarrafamento.

Também fiquei sabendo que por muito tempo o aniversário da cidade sequer era comemorado. A primeira festa grande foi a dos 350 anos. Depois disso, a data ficou esquecida por algum tempo, sendo relembrada pelos jornais de quando em quando. O aniversário só foi lembrado religiosamente a partir de 1984. Ano que vem a cidade completa 400 e já prometem um amistoso da seleção brasileira contra a França. Veremos.

A minha teoria é que procuraram qualquer evento no dia 8 de setembro buscando um feriado prolongado. Porque, olha, esse feriado junto da Independência é ótimo.

19.2.11

Lombra

Vamos abrir esse blog para discussões: quando viajei de Floripa pra cá, saí do horário de verão para o horário normal (afinal, quando adiantávamos uma hora como o resto do Brasil, eu acordava e chegava na escola ainda com o tempo escuro como se fosse noite. Logo, gastávamos mais energia) e quando "ganhei" essa hora, estava contando que ia perdê-la quando voltasse pras aulas. A questão é que o horário de verão acaba hoje e eu só volto semana que vem. Quando chegar no aeroporto Hercílio Luz, não vou ter que atrasar o relógio. E agora, como é que fica aquela hora que eu ganhei? Sou uma hora mais velha que todo mundo!

17.2.11

Quem quer uma carona?

Acordei e só tinha uma certeza. É, não vou passar na prova de trânsito. Passei. Fui aprovada naqueles vestibulares, consegui morar sozinha e não tive vontade de voltar pra casa da mãe. Nada que se compare a ter passado nesse teste. Ter feito o percurso direitinho, um dia depois de ter sido cortada feio por um ônibus no meio da rotatória, foi como vencer a minha maior fraqueza. Porque, olha, meu medo não era de ficar solteirona, mas de chegar aos quarenta e ainda não saber dirigir. Não tirei a carteira assim que fiz 18, se não fizesse isso agora, antes dos 20 e nessas férias intermináveis, quando mais seria? Nunca tive muito medo de trânsito, mas só de me imaginar controlando a direção... Bem, nem conseguia imaginar. E sabe o motivo que de fato me fez excluir a possibilidade de fazer autoescola em Floripa? Os morros, principalmente o da Lagoa. Queria ficar bem longe deles. No mais, meu examinador era um fofo, esqueci de colocar uma seta e suei muito no calor de meio-dia como uma boa maranhense. Superada e sem traumas.

10.2.11

"O psicopata mora ao lado"

Taí, o livro Mentes perigosas serve pra alguma coisa: você, estudante de jornalismo, se perguntando qualé a importância desse troço que você está aprendendo (na maior parte do tempo, na tentativa e no erro). As pessoas têm interesses, a gente supre. Uma reportagem de quatro páginas supre o interesse de todo mundo que quer saber como funciona a cabeça de um psicopata. Mesmo nesses tempos em que psicopatas são tão populares quanto vampiros. Só que alguma editora resolveu empolgar a Ana Beatriz Barbosa Silva, que acabou escrevendo um dos livros menos objetivos que já li. Claro que tem coisa importante ali. A diferença entre estar e ser consciente, as histórias que mostram as ações dos psicopatas, aquele lance da parte emocional do cérebro ser menos desenvolvida e etc. Mas... ler essas informações pontuais no meio de frases de efeito que terminam com um belo ponto de exclamação? Isso vale a pena? E se o tema tivesse resultado numa reportagem e não nesse livro, teríamos ouvido mais opiniões. A autora deixa claro que tudo aquilo é o que ela acredita e eu senti muita falta de outras vozes. Até porque ela fala várias vezes que o assunto não é nenhum consenso.

É um livro ruim que, infelizmente, se vende pela capa e pelo texto da contracapa. É com vergonha que admito que fui eu quem escolheu esse livro pra dar de presente pro padrasto.

8.2.11

Não entre em pânico

Aviso que este é um post de utilidade pública. O Submarino, site de compras com a pior entrega desse mundo, ainda está fazendo o favor à humanidade de vender a coleção O mochileiro das galáxias a 29,90. Seja feliz.

Arthur Dent vivia de boa na Terra até que recebeu uma ordem de despejo porque sua casa ficava no caminho de uma estrada a ser construída. Aí chegou o amigo dele e revelou que é um alienígena e que o planeta iria ser destruído em 12 minutos pelos vogons para dar espaço a uma via interespacial. Pois é, foi nessa parte que soltei um dos primeiros risinhos ao longo dos cinco volumes da "trilogia". Esse é só o início da história, mas fica difícil resumir todas as voltas que Douglas Adams deu. É estranho falar que o protagonista viveu muitas aventuras, se meteu em enrascadas e se safou de outras com seu charme de "fiz isso por pura sorte". Até porque não estou falando de sessão da tarde, nem daquela literatura infanto-juvenil de pior qualidade e, na verdade, nem de literatura infanto-juvenil. Essa coleção foi apenas a melhor que eu li até agora, porque Adams é um Escritor. Sabe, de verdade. O jeito que ele escreve é tão fluente que faz parecer que ele escreve daquele jeito o tempo todo. E toda aquela ironia, aquele humor e a genialidade alardeada do cara estão naquelas histórias.

Volume 1, O guia mochileiro das galáxias: Descobri que não só posso gostar de ficção científica como esse aí já se tornou um dos meus favoritos. O universo que o autor cria é tão envolvente que te deixa com vontade de pegar carona na primeira nave espacial que passar. Adams explica como funcionam várias coisas, mas sem aquele didatismo exagerado do filme A origem. E, bem, acho que entendi todos aqueles conceitos físicos que ele inventou também.
Volume 2, O restaurante do fim do universo: Ainda não concordo com um boi que oferece sua carne aos clientes quando ainda está vivo e fica feliz em morrer com esse fim. Pensei, no começo, que esse livro seria repetitivo porque uns dois ou três conceitos que tinha acabado de ler no anterior foram explicados de novo e com o mesmo raciocínio. Isso não aconteceu e o vol 2 acabou sendo uma grande continuação do primeiro, com o mesmo ritmo e tudo.
Volume 3, A vida, o universo e tudo mais: Douglas Adams resolve humilhar quem não consegue pensar nem sobre o que escrever e inventa uma aventura para cada personagem principal, intercalando os capítulos. Esse livro é daqueles pra ser devorado.
Volume 4, Até mais, e obrigado pelos peixes!: Essa frase e os golfinhos me ganham sozinhos, né? Mas esse volume é mais calmo e leve, como um romance deve ser. Não gostei de alguns rumos que a história tomou (tipo com quem nosso protagonista se envolve e o paradeiro de outros personagens), mas ainda assim, indiscutivelmente bom.
Volume 5, Praticamente inofensiva: A ação volta pra história, mas o livro inteiro tem o clima de último capítulo e ele meio que é isso. É sim mais sem graça, mas se a coleção terminasse no pique dos outros, os leitores ficariam com uma sede de galáxia (ou de uma dinamite pangaláctica) terrível e acabaríamos relendo os volumes sem parar.

No fim, ler a coleção do mochileiro serve pra você entender as referências que seus amigos nerds viviam fazendo a Douglas Adams (tinha um que se dizia alguém de muitas qualidades, mesmo que quase todas ruins - como Zaphod é descrito ainda no primeiro volume) e até participar delas (como no dia da toalha, 25 de maio, que causa um certo frisson no twitter).

p.s.: Agora acho que me formar em jornalismo e ser repórter/mochileira do Guia seria uma boa pro futuro.

6.2.11

Teorema da sua linda

Todo mundo têm uma amiga linda, bonita, interessante, charmosa, que tem pernas bonitas sem nunca ter feito academia. Não que a gente, normal, se ache a pessoa mais feia do mundo, mas a vida ensina: ela é quem vai chamar atenção, os caras vão olhar pra ela e tentar conquistá-la, simples, sem dramas e nem ressentimentos. No ensino médio, ela conseguia os caras mais bonitos da escola e também os mais bonitos das outras escolas, só fazer amigos novos. Agora que tá todo mundo na faculdade, ela tem histórias com os caras mais interessantes. Aquela velha lei da sobrevivência, você sabe quem é mais forte.

E, observando a minha amiga linda nessas férias, cheguei a essa conclusão: todos aqueles caras bizarros que tentam chegar na sua amiga linda no meio da rua, numa mesa de amigos em comum, na balada (e esse é o pior lugar pra eles), acham que estão numa comédia romântica típica. Coitados. Acham, é claro, a menina a mais bonita do lugar, querem conversar, podem passar o resto da vida com elas. O pior de tudo é que acham que elas sentem o mesmo. Coitadas. Se cada abordagem que elas recebem fosse mesmo tão significativa, iam protagonizar uns dez filmes água com açúcar por dia.

5.2.11

Meu eu vulnerável

Tem gente que mal ficou bêbada e já vai falando o nome completo, endereço, telefone e qual-rede-social-você-pode-me-encontrar. Fico comportada quando alcoolizada, minto meu curso, não digo nem a pau onde moro, alego ser mais velha do que sou, me recuso a dar qualquer forma de contato e, claro, invento outro nome. Só não posso me gabar da criatidade. Dizer que me chamo Carol depois da minha amiga falar que o nome dela era Ana?

E aí descobri meu momento de vulnerabilidade para falar tudo da minha vida: me coloca atrás de um volante, morrendo no calor maranhense e com os pés nuns pedais chatos. Malditas aulas de direção. Meu instrutor é um idiota. Não é lá muito didático e paciente, faz piadas ridículas e obviamente tem alguma ligação com Santa Catarina (parece que talvez vá trabalhar em Blumenau). Porque ultimamente não paro de conhecer gente aqui em Slz que mora em Floripa. Noutro dia, no Reviver (como chamamos o centro histórico da cidade), tinham três alunos da UFSC e um da Udesc. Vê se pode?!

Tá, o meu instrutor é do tipo de cara que, quando um cachorro passava na frente do carro, perguntava "Gosta de cachorro? Sim? Então atropela ele". Quando era uma pomba, "Gosta de pomba? Não? Então não atropela". E eis que nas primeiras aulas, quando eu ainda morria nervosa andando naquelas ruas de bairro e sofria com a perspectiva de evoluir pra avenidas, ele conseguiu arrancar várias das minhas informações pessoais. Inclusive meus dois celulares (o 98 e o 48). Mereço?