29.1.11

Sim senhor

Tava pensando, nunca na vida obedeci tanto. Quando somos adolescentes, na fase crítica, só queremos seguir nossas próprias vontades, fingir que controlamos alguma coisa. Não fugi à regra, ouvia o que minha mãe falava. Tá, não quando ela me mandava parar de estudar e dormir mais cedo. Descontava toda minha rebeldia nos professores. Coitados. Odiava a quase todos. Não sabiam ensinar, aprendia melhor por conta. E tenho pensado com certa frequência neles já que o apê atual em São Luís fica um pouco depois da escola antiga. Por esses dias, voltaram as aulas. Vejo aquela ladeira, o pessoal que nem conheço mais de farda verde, os mesmos vigias, o segurança, as secretárias de vez em quando. Nostalgia é minha vizinha agora.

Voltando, perdi a conta de quantas vezes reclamei deles, algumas briguei no meio da aula, importunando os colegas que queriam que o professor resolvesse o maior número de questões possíveis pra ver se alguma caía na prova. Fiz acusações. Só enrolavam, ninguém aprendia de verdade com eles, poderia ler meu livro em paz porque conseguia ouvir a "explicação" ao mesmo tempo. No fim, simplesmente desisti de assistir às aulas de geografia. Os coordenadores tentavam me fazer voltar pra sala, conversei com as diretoras gêmeas sobre isso, desistiram de mim, colégio pequeno é bom por isso. Teve uma época que impliquei com os tais pontos qualitativos. A prova mensal valia sete pontos e os outros três, bem, os professores faziam o que queriam com eles. O que ensinava literatura, português e redação passava umas atividades, mas gostava de escolher notas aleatórias. Respondia às questões que ele mandava. Não, não mostrava pra ele. Ficava sem os pontos. Eram humilhação demais pra mim. Agora, na faculdade, acho que só recebi duas ou três médias de disciplinas que não fossem basicamente pontos qualitativos.

É, a cena mudou mesmo. Ainda odeio alguns professores, mas meu diploma depende deles. Preciso. Na época de vestibulanda, sabia que uma máquina corrigiria meu gabarito e que quem leria minhas questões discursivas ou minha redação nem imaginaria que eu era maranhense. Sei lá, o máximo que falei nesses dois anos de vida ufisquiana foi que precisávamos ir ao Restaurante Universitário, era meio-dia e meio, tínhamos aula em seguida, libera logo a gente. Tive que ouvir aquele básico "Repórter que é repórter nem sente fome quando tem que fechar uma matéria". Ignorei a criatura o resto do semestre e, felizmente, não o encontrarei até a formatura. E, nesses tempos, que me acostumei com as médias qualitativas, que não reclamei das taxas acadêmicas que estão sendo cobradas agora e nem da demolição da segunda ala do RU, percebi: eu obedeço. Raíssa (o instrutor da autoescola sempre erra meu nome), passa a segunda! Não tenho mais que te avisar pra passar a marcha. Vira pra esquerda, não, pra direita, isso. Para no meio da ladeira. Vai soltando a embreagem, isso. Agora para de novo. Sai de novo. E, pra completar, entrei pra academia. Não, mexe só o antebraço, o resto tem que ficar parado. Faz duas de doze, três de dez, já se alongou? O que aquela chata diria de mim? Procurando tantas instruções? E, pior, ficando satisfeita em fazer tudo direito? Agora dez minutinhos de bicicleta. A contagem é regressiva, ok?

24.1.11

Pretty in pink

"Como posso estragar o vestido de formatura da minha única amiga?"
Pra que assistir filmes adolescentes moderninhos se você pode se pagar de cult assistindo clássicos e aproveitar pra rir do figurino de 1986? De bônus você ainda pode encontrar o Alan Harper de Two and a half men com 21 anos e escutar Please, please let me get I want dos Smiths na trilha sonora.

Também foi mais um ciclo se fechando, finalmente conheci o filme que aparece como referência num livro inteiro de Meg Cabot, A princesa de rosa-shocking. Pretty in pink vale a pena não só pelos anos 80, mas pela atuação de Molly Ringwald, o roteiro que poderia ser mais clichê e pelo pior vestido da história do cinema.

Praia do meio


Desculpa, mas eu não consigo pensar em posts maiores que 140 caracteres ou algo além do bronzeado que pretendo ter até 1º de março, quando volto pra Floripa.

17.1.11

No time to think of consequences



Nem eu entendo o meu desinteresse musical e essa minha conexão maranhense realmente não colabora quando finalmente quero conhecer algo "novo". Novo pra mim, já que estou falando de Beatles (ainda não ouvi todos os álbuns), Bob Dylan, Chico Buarque, Strokes, Franz Ferdinand ou mais algumas músicas de Vanguart.

Anyway, o vício desses tempos é o clipe de Kids. Ainda não gostei de verdade de outra música de MGMT, mas não consigo parar de assistir esse vídeo (e o trecho daquele seriado antigo com as gêmeas Olsen, Três é demais, é ótimo).

"Kids" me dá saudade de Floripa, dos amigos catarinenses, das festas de final de semestre e principalmente de lugares que tocam música boa. O segredo de aguentar uma noite inteira ouvindo sertanejo, mesmo que sua amiga que mora em Goiânia te divirta cantando todas as letras - é chegar em casa e ouvir algo tipo MGMT enquanto mentaliza bons momentos.

12.1.11

Un país es como un marido

"Siempre susceptible de ser mejorado", nas palavras da própria Isabel Allende. E é isso o que a escritora chilena faz em Mi país inventado. A sobrinha de Salvador Allende (na verdade, ele era primo do pai dela) mergulha nas suas memórias e tenta lembrar do cotidiano daquele país espremido no final da América Latina. Acaba maquiando algumas partes da historia que conta e deixa isso bem claro durante o livro. Isabel se diz forasteira, reclama que não se vê em casa em lugar nenhum. O país que ela inventa é o Chile, não por considerá-lo um lar, mas por ser o lugar que a deixa nostálgica. Costumes, culinária, geografia, vegetação, o perfil do cidadão chileno, história, política, tudo isso aparece misturado com histórias peculiares da família Llona Barros, uma auto-biografia resumida e o contexto de algumas obras como A casa dos espíritos, Paula, Contos de Eva Luna e O plano infinito.

Mi país inventado é um livro de memórias mais leve que Paula. No livro que iniciou quando a filha estava em coma, Isabel se detém na história da família inteira e a narrativa é pesada, dá pra sentir a dor de uma mãe que tem a filha muito doente. Mi país inventado é leve, descontraído, chega a ter algumas tiradas e basicamente conta as impressões que o Chile deixou na escritora. E, por tabela, também mostra a influência da Venezuela, exílio durante a ditadura de Pinochet,e da Califórnia, onde mora atualmente com o marido americano. Vale a pena e eu sublinhei metade do livro!

"Chile es un país machista: es tanta la testosterona flotando en el aire, que es un milagro que a las mujeres no les salgan pelos en la cara."

"[...] somos un pueblo con alma de poeta. No es culpa nuestra, sino del paisaje. Nadie que hace y vive en una naturaleza como la nuestra puede abstenerse de hacer versos. En Chile usted levanta una piedra y en vez de una lagartija sale un poeta o un cantautor popular."

"[...] si yo hubiera crecido protegida y feliz, ¿de qué diablos escribiría ahora? Por eso he procurado hacerles la infancia lo más difícil posible a mis nietos, para que lleguen a ser adultos creativos. Sus padres no aprecian para nada mis esfuerzos."

"Casi todas las vidas se parecen y pueden contarse en el tono con que se lee la guía de teléfonos, a menos que uno decida ponerle énfasis y color. En mi caso he procurado pulir los detalles para ir creando mi leyenda privada, de manera que, cuando esté en una residencia geriátrica esperando la muerte, tendré material para entretener a outros viejitos seniles."

"Tanto me he incorporado a la cultura californiana, que practico meditación y voy a terapia, aunque siempre hago trampa: durante la meditación invento cuentos para no aburrirme y en terapia invento otros para no aburrir al psicólogo."

10.1.11

Éguas, doido

O calor quando saio do avião. O abraço da família depois que encontro minha mala. O primeiro gole de jesus vencendo uma seca de quatro meses desse refrigerante cor-de-rosa. Só me sinto verdadeiramente em São Luís do Maranhão quando as pessoas começam a falar. Aqui temos o português mais puro do Brasil!, é o que a gente diz. Num temos sutaque, os nordestinos são os cearenses e os pernambucanos. Estamos em algum lugar no meio-norte e, como o Piauí não faz muita diferença, nossa localização é meio indefinida, tentamos lançar foguetes ucranianos de Alcântara (cidade que foi inteira reformada para receber a visita de D. Pedro I e ele nunca apareceu) enquanto expulsamos a população quilombola do litoral.

Nos achamos especiais porque moramos na única capital fundada por franceses, mas nossos azulejos famosos são portugueses, nossas personalidades mais destacadas quase todas se chamam José de Ribamar e nunca conheci um ludovicense qualquer descendente dos franceses pingados que continuaram aqui depois que os portugueses retomaram o domínio da região. Sabe como é, antes de Joaquim Nabuco ficar feliz com o fim da escravidão, proibiram o tráfico, faltou escravo em Pernambuco e no sudeste, os nossos foram todos vendidos. Fazer o que aqui? Pescar caranguejo? Jesus, o ateu, ainda nem tinha inventado seu guaraná e a indústria algodoeira só teve demanda quando os Estados Unidos bobearam na guerra de independência. Nossos escravos foram embora e levaram junto nosso sotaque. Porque o Maranhão pode ter os piores índices de educação, saúde, saneamento (apesar da concorrência piauiense e alagoana), mas sotaque? Sutaque num tem não, rapá. 

Os mais jovens são quase caricatos. Para eles, todo mundo é doido, rapá ou piqueno. "Dooooido, teve uma briga na formatura de odonto". é o que determina o fim de uma frase ou dá ênfase quando utilizado no início. "Ê, , tô com uma fome". Ou melhor: "Ê, , tô brocaaaado". Porque além de todo mundo ser malandro e se demorar nas vogais, temos umas palavras bem bizarras. Brocado para quem está com muita fome. Aziados são os entediados, o típico domingo maranhense. Marocar para quem desabilitava a opção do orkut de ver quem visitava seu perfil só para marocar todo mundo e neguinho nem ficar sabendo. Arrilia para os agoniados e por aí vai. Nossas festas são raladas, muy difícil achar algum lugar que não toque pagode, forró, tecnobrega e reggae ou tudo isso junto. Os gays não são apenas baitolas e viados, mas qualiras também. E sabe a briga da formatura de odonto? Não teve murro, teve bogue

E como bons nordestinos que somos, apesar de não termos aquele T e D pra lá de Recife, soltamos um "Ééééguas, doido" quando ficamos surpresos. Só pisar nessa terra que já saio falando "Ê, pô, quero tomar um sorvete de tapioca" e "Éguas, doido, esse caranguejo tá muito bom". Sim, mas me controlo pra não soltar pelo menos nenhuma égua quando volto pra Floripa, seria colocada numa gaiola de vez. Olha lá a maranhense! Com sotaque! "Rapá, num tenho, viu?"

5.1.11

Retrospectiva de leitura

Os livros que li em 2010

Forever princess, Na pior em Paris e em Londres, A sangue frio, O que é arte, Como escrever na rede, Por trás da entrevista, A palavra pintada, O que é ser jornalista, Jornalismo internacional, A arte de fazer um jornal diário, Jornalismo online, Jornalismo on-line: modos de fazer, Fama & anonimato, Guerra e Imprensa, Paris é uma festa, O velho e o mar, Edição e design, A feijoada que derrubou o governo, A identidade cultural na pós-modernidade, Por que as comunicações e as artes estão convergindo?, Cultura da Convergência, Jornalismo digital, Principles of Convergent Journalism, Os viúvos, Honoráveis Bandidos, Los cinco sentidos del periodista, Terra icógnita - a interface entre ciência e o público, Chabadabadá, Infografia - o design da notícia, A estrutura da notícia, Design para a internet, A ordem do discurso, Meio intelectual meio de esquerda, Só garotos.

Foram 34. Em negrito, os melhores. Nota-se a presença de muitos livros pra faculdade. Quem faz jornalismo sabe como existem tantos livros (às vezes nem técnicos) sobre a profissão e 2010 foi um ano desesperado para ler pelo menos alguma coisa sobre o tema.

O casal literário mais fofo

Mia e Michael, de Forever Princess (Meg Cabot). 

Soco no estômago

Honoráveis Bandidos (Palmério Dória). A política do Sarney é incrível.

Aquele em que chorei de soluçar
Ou "o livro mais triste que li" pra quem não costuma chorar lendo

É, nunca chorei num livro. Mas A sangue frio (Truman Capote) é um livro muito triste. Não só porque conta a história do assassinato de uma família inteira, mas a própria vida dos criminosos é tocante. Ainda mais com o envolvimento que Capote tinha com um dos assassinos.

A maior decepção do ano

Não foi lá uma grande decepção, mas eu esperava mais de Chabadabadá (Xico Sá). Ele é nordestido, tem um estilo bacana, umas referências que chegam a impressionar, mas esse livro não tem crônicas fortes, passa despercebido fácil (tirando o macho-jurubeba). Sem contar que as referências dele acabam repetitivas.

O mais chato

Principles of convergent journalism (Vários). Fui obrigada a ler esse para o estágio (fazemos discussões sobre livros). Primeiro ele ensina o que é jornalismo (acho que já sei depois de dois anos na faculdade), os princípios do jornalismo... E quando vai falar sobre convergência de meios, ele nos ensina a decupar uma fita de vídeo ou passar o áudio de um gravador para o computador. Sem essas dicas não sei o que seria de mim...

Quase morri de tanto rir!

Se duvidar, o único livro engraçadinho que eu li foi Os viúvos (Mário Prata), que tem umas tiradas muito boas. Sem falar das notas de rodapé famosas do autor.

Bate bola de personagens

Personagem masculino apaixonante: Michael Moscovitz (Forever princess).
Personagem feminina admirável: Patti Smith (Só garotos).
Personagem mais legal: Os anônimos de Fama & anonimato.
Personagem mais perturbador: Perry Smith, um dos assassinos da família de A sangue frio.
Personagem que mais me identifiquei: Não me identifiquei muito com um personagem em especial, mas com as crônicas de Meio intelectual meio de esquerda.

O melhor livro que li em 2010

Só garotos: foi o último do ano e teve um post só para ele. A história é marcante, gostei da narrativa de Patti Smith e foi uma leitura que me inspirou. A continuar sonhando com um ano em NYC, a estudar arte (?), a escutar músicas diferentes (ainda estou me entendendo com o estilo de voz da Patti).

Meme passado pela Tary.

4.1.11

A alma das ruas

A primeira
Da última vez que passei pela rua 2 - meu antigo bairro era dividido em ruas de números e ruas de planetas - foi para me emocionar. A casa 18, a minha, estava amarela, com outro jardim, outro muro, outros donos. Quantas vezes subi a primeira ladeira da minha vida para comprar guaraná jesus no mercado que mudava de nome a cada cinco anos. Quantas vezes ficava sentada na calçada vendo meus vizinhos brincarem de queimado ou vôlei, já que eu era a mais nova e não podia participar dos jogos. Lembro de quando me ralei inteira descendo a rua de patinete e das vezes que passeei com meu primeiro cachorro. No fim, subia para pegar ônibus e descia morrendo de medo de ser assaltada na esquina.

O morro
Passei meu primeiro ano em Floripa morando num pensionato que ficava quase no topo da ladeira mais íngreme que eu já subi à pé. O medo de altura me deixava meio tonta na subida e morria de medo de cair. Pois foi na descida que eu estive prestes a rolar ladeira abaixo e me quebrar inteira. Por sorte, das vezes que caí não virei rolinho primavera. Foram duas. Uma vez escorreguei na areia, a outra foi na água da chuva mesmo. Encarava aquela rua como um desafio. Demorei vários meses até ter coragem e disposição de subi-la e descê-la mais que uma vez por dia.

A queridinha
Minha rua atual de Floripa não é só minha. É também de metade da UFSC. Essa tem uma alma mais pública, as outras eram mais intimistas. A do morro nem saída tinha. Antes das 8 da manhã, vou junto com os universitários-padrão e volto com alguns deles lá pelas seis da tarde. Bares estrategicamente posicionados para não faltar oferta, assim como as barraquinhas de cachorro-quente. Quem mora longe do supermercado, escolhe seu mercadinho favorito. O meu é o do Chico, que tem uns tomates bem bonitos, mas não vende carne. O maior movimento é às 21h55, quando percebemos que as portas não vão nos esperar abertas até resolvermos sair de casa. A maioria fecha às 22h, quando o movimento vai adormecendo até chegar o outro dia e de novo o fluxo de pessoas parecidas, a maioria usando moletons de cursos, caminhando por curvas fechadas, uma ladeira discreta, alguns cruzamentos e o buraco que ficou na calçada depois que retiraram um poste. E é claro que isso foi no meu lado preferido da calçada.

Ainda não posso terminar esse post sem falar da Rua Grande, a principal rua de comércio aqui de São Luís. Vou lá desde pequena e foi nela que vivi meus primeiros aglomerados urbanos, enquanto os vendedores gritavam promoções em microfones e vez em quando eu tropeçava num paralelepípedo. A Beira-mar de Floripa que me denuncia como turista toda vez que prefiro sentar na parte ensolarada do ônibus só para reparar de novo no litoral. E a Paulista, ah a Paulista... me deixou sem palavras da primeira vez que eu fui lá. Mas quem disse que sei o que falar dela agora?

Crônicas de João do Rio, pseudônimo de Paulo Barreto, sobre o Rio de Janeiro no início do período republicano. "A cosmópolis num caleidoscópio". Assim meio poético, às vezes o autor faz uma verdadeira ode a um aspecto da vida popular. Tem uma temática meio Gay Talese de vez em quando, principalmente quando vai falar dos estivadores.

"Em São Luís do Maranhão há uma rua sonâmbula muito menos cacete que a ópera célebre do mesmo nome. Essa rua é a rua de Santa Ana, a lady Macbeth da topografia. Deu-se lá um crime horrível. Às dez horas, a rua cai em estado sonambúlico e é só gritos, clamores: sangue! sangue!"
A rua de Santana eu conheço, só falta descobrir desse crime.

2.1.11

Cuba libre

Já que esse é um livro com tantas listas de três ítens, lá vai uma. Resolvi ler Liliane Prata porque:
1) Li o Antonio recentemente.
2) Encontrei a escritora num shopping em São Paulo.
3) Soube pelo twitter que ela fechou um contrato para um romance adulto e eu, que já li o primeiro diário de Débora num dezembro distante, queria acompanhar o desenvolvimento dela como escritora.

Fui pesquisando preços e informações sobre o livro. A sinopse padrão contava que Marina, a protagonista, era meio que uma solteira desesperada para ter um relacionamento longo e não passava de namoros de três meses. Ela acabava entrando numa sala de bate-papo, conhecia um tal de Rafa e gostava dele. Viraram namorados virtuais e quando se encontraram pessoalmente pela primeira vez, acontecia algo. Ok, um mistério. Só que tive a brilhante ideia de ler sobre a história no site da própria Liliane e logo no início de uma descrição de apenas sete linhas descobri a surpresa que Rafa causava em Marina. Os sites de venda online escondendo a informação e aí vem a Liliane Prata e me conta. Pode ser mais contraditório? Já li em diversos posts e colunas que ela escolhe um livro simplesmente pela capa, não tem coragem de ler orelhas e nem contracapa com medo de descobrir detalhes importantes da história.

Uma bebida e um amor sem gelo começa fraco. Marina é uma desencalhada, rancorosa e insegura que vive como uma gordinha tensa consciente que precisa fazer exercícios físicos. Lamentações em várias páginas. Só isso até que acontece a tal reviravolta (Não vou contar, se quiser, saiba pela própria Liliane) e a personagem finalmente ganha alguma complexidade. Essa mudança brusca salva o livro que, por um pouquinho menos, passaria despercebido muito fácil. Até o corte seco na sequência de capítulos contando quase o dia-a-dia da protagonista indo direto para um epílogo que mostra a Marina muito mais madura - dá pra perceber três momentos da personagem - foi muito bem calculado. E se não foi, funcionou muito bem.

É literatura de mulherzinha que não empolga nada no começo. Mas depois do meio, você se pergunta como a história vai conseguir acabar em poucas páginas e dá tudo certo.