25.12.09

Uma carta, uma biografia, a história do Chile

"Paula" é mais um livro da Isabel Allende que começou com uma carta. O primeiro foi "A casa dos espíritos", sua primeira obra de ficção publicada, e que começou como uma carta para o avô da escritora que estava prestes a morrer. Já "Paula" começou como uma carta para sua filha. Ela sofria de uma doença hereditária chamada porfiria (distúrbio no metabolismo) e teve uma forte crise aos 28 anos, tão forte que entrou em coma. Isabel Allende resolve, incentivada por sua editora, escrever uma carta para a filha contando a história da família para se Paula perdesse parte da memória quando acordasse.

No livro, a autora conta a sua história desde o casamento dos seus avós até a sua própria união com o americano Willie, passando pelo governo de Salvador Allende (primo do pai de Isabel) no Chile, o exílio na Venezuela durante a ditatura militar de Pinochet, o período pós-ditadura, uma aventura extraconjugal na Espanha, sua carreira como jornalista, entre outros fatos. Dá pra aprender um pouco da história chilena, que é bem interessante, e também os costumes e a cultura desse povo. A Isabel também trata rapidamente de outros países da América Latina como a Argentina e a Venezuela, onde ela passou perrengues durante o exílio.

E, ao mesmo tempo que Isabel narra a história da família e a própria história, ela fala sobre a doença da filha. Como Paula foi parar no hospital, o que aconteceu lá, como era a rotina médica, quem eram os outros pacientes que ficavam na mesma enfermaria com ela, a transferência de Paula para os Estados Unidos (antes, ela estava em Madri) e, depois, para a casa de Isabel e Willie que tem vista para a baía de São Francisco. Isabel narra um rápido progresso de Paula e depois sua deterioração. E, nesse período, os dons clarividentes da família aparecem para a autora, que vê Paula todos os dias em seus sonhos e conversa com ela no nível espiritual.

É triste e muito emocionante acompanhar o sofrimento e o desespero de uma mãe que não queria perder tão cedo a filha querida, que tanto valoriza a família e que tem uma união muito forte com os parentes. A morte de Paula não é surpresa e, por isso, não deixa o livro triste demais.

+ E, ontem, conversando com papai ele me contou que no acidente de carro que ele sofreu, antes do carro capotou, ele sentiu uma tranquilidade tão grande, uma paz tão forte que ele parecia estar no paraíso.. e sentiu também que a mãe dele, já falecida, estava ao lado dele. Tem como não acreditar no que ele disse tendo terminado de ler Paula no mesmo dia? Nunca perdi ninguém tão próximo de mim, mas tenho certeza de que quando isso acontecer, a pessoa vai continuar viva em mim. Como Paula vive em Isabel Allende e como vovó vive ainda em papai.

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