Quando eu fui à Macapá (AP) em 2006, a minha prima mais parecida comigo – que na época estava na sua fase mais indie - me viciou numa banda completamente desconhecida pra mim. Passava a madrugada na internet (à rádio, porque lá não tinha banda larga normal e nem sei se já tem) ouvindo a mesma música com ela. Pouco tempo depois vi outra música virar single na MTV. Uma música pra quem acredita, como o próprio Hélio Flandres descreveu no show que eu fui na semana passada. A música era Semáforo e a banda, Vanguart.
Soube desse show com dois dias de antecedência apenas pelo meu amigo de Cuiabá, cidade natal da própria banda. Apesar de estar no meio da mudança e sem dormir direito há alguns dias, lá fui eu pra Lagoa da Conceição. Da série: um show que eu nunca assistiria caso continuasse morando em São Luís.
Nem lembro mais qual foi a primeira música que o Flandres, mas minha intuição sussurra que foi
Para abrir os olhos.
O que é a dor? Eu não entendo, mas sinto apertar de leve o meu peito nas madrugadas quando estou a navegar. Dancei, cantarolei, errei metade das letras – é triste nunca decorar músicas inteiras, mas não consigo. Triste mesmo é que o sabor da
Cachaça não é o mesmo ao vivo, ainda prefiro na madrugada ouvindo no repeat por no mínimo quatro horas e com o coração bem apertado.
Você sorri movendo quase nada e antecipa a velha longa estrada e os teus galhos vão me arborizando nu. Essa música é meu toque de celular e foi a que minha prima de Macapá usou pra me apresentar a banda.
A notícia boa é que a energia de
Semáforo aumenta exponencialmente no show, todo mundo se diverte.
Só acredito no semáforo, só acredito no avião, eu acredito no relógio, acredito no coração. Não, não, não... Em
Cosmonautas, lembrei da
Anna, que me falou pouco antes que adorava essa música. Como um Rio sem Janeiro, meu fevereiro sem carnaval... Eles ainda tocaram
Just to see your blue eyes see,
Miss Universe,
Los Chicos de Ayer,
Enquanto isso na lanchonete,
Antes que eu me esqueça,
Beloved, uma música nova em espanhol e alguns coves.
Um dos pontos bons do show foi ficar reparando no quanto o Hélio Flandres (vocal), o guitarrista David Dafré e o baixista Reginaldo Lincoln são diferentes. O Flandres bem indie, vibrando com seu violão como se estivesse fazendo um solo na guitarra e insistindo em conversar com o público mesmo com pedidos pra ele voltar a cantar logo. Foi numa dessas que ele falou “
Não vale à pena não, viu” sobre trabalhar na Mc Donald’s. O guitarrista era meio Wagner Moura, só que mais sujo e com cara de abusado, mas não daqueles podres. Ele tem uma voz bem legal, descobri que ele que canta músicas aleatórias tipo Miss Universe. O baixista é na dele, o Flandres ficou enchendo dizendo que ele era muito tímido, mas ele se revelou cantando um couver de Beatles.
Não fiquei tão triste quanto o resto dos fãs por não terem cantado
The last time I saw you. Mas engraçado que o Flandres justificou a recusa do pedido do público falando que naquela altura do campeonato era difícil lembrar a letra. Eu que nunca consegui decorar nem Cachaça, só posso perdoar.