10.11.11

This is it


Poucas pessoas ficam tão felizes com o horário de verão. Talvez porque morei a vida inteira numa cidade onde anoitece sempre alguns minutos antes das 18h, sorrio para o céu quando saio do estágio ou entro para a aula da noite e ainda tem sol. Foi por isso que numa quinta-feira qualquer andei as duas ou três quadras que separam a Secretaria de Saúde, onde estagio, da Beira-mar. Não esperei o ônibus no ponto de sempre. Atravessei a avenida e caminhei um pouco ouvindo o barulho do mar numa orelha e a música do Criolo na outra. Achei uma escadinha que descia para a mínima faixa de areia naquela orla que não dá praia. Sentei num degrau e fiquei anotando no meu bloquinho as diferenças que me vinham à cabeça entre a Beira-mar de Floripa e Litorânea de São Luís, as duas avenidas equivalentes dessas cidades. A intenção era fazer um post sobre isso aqui no And make me smile, mas a vontade se perdeu junto com minhas anotações. E olha que aquelas folhas soltas passaram muito tempo ao lado do meu notebook esperando serem digitadas. 

A comparação entre as avenidas foi só um dos posts que não se concretizaram por aqui. Planejei diversos textos sobre bastidores de coberturas para o jornal-laboratório Zero, temas que me familiarizei no meu estágio ligado ao SUS e livros muito bons que li como O livro amarelo do terminal e a máquina de fazer espanhóis (fotografado no cabeçalho). Nesse meio tempo, perdi mais voos, fui ao Planeta Terra, vi Strokes de pertinho, vivi outras experiências antropológicas e não contei nada disso aqui. A vontade de escrever não me falta, mas sinto como se não coubesse mais nesse blog. Sempre quis arranjar um título em português e me mudar para o wordpress. O estopim foi quando escrevi um texto que gostei bastante de fazer para Redação 6 e, como não seria publicado, amigos sugeriram que eu postasse no meu blog e se comprometeram a compartilhar o link no facebook. Nunca gostei que pessoas da vida real lessem essa página e tava mais do que na hora de me assumir como blogueira na faculdade de jornalismo. Por isso terei que deixar de lado meus textos pessoais, escrevê-los apenas para mim.

Esse blog me rendeu ótimas amizades e o endereço vai ficar aqui até o servidor do blogspot surtar e deletá-lo sem minha permissão. Apresento em primeira mão meu novo blog, que nem está totalmente estruturado ainda. Vai uma dose de tiquira?

17.10.11

O dead me enforca na line dele

"E capricha na linguagem brasileira universal, tá?",  foi o que ele me pediu, como se linguagem brasileira universal fosse uma das opções do Final Draft ou do Magic Screen Writer. Você clica em LBU e seu texto será entendido nos pampas, serrados, praias, selvas e caatingas do país, sem contar os aglomerados urbanos e seus múltiplos guetos. 

Nunca tinha ouvido falar de Reinaldo Moraes e nem do livro Pornopopeia. No máximo, confundi com o Pornopolítica do Arnaldo Jabor. Comecei a leitura e dei de cara com um cineasta decadente, viciado em drogas, bêbado, com um casamento falido e muitas dívidas a pagar. A chance de voltar a ganhar dinheiro era com um vídeo institucional para uma empresa de embutidos de frango. Durante muitas páginas, Zeca, um quarentão que nem chegou a estudar Cinema direito, fica procrastinando fazer esse roteiro. Bebida, ligar para o traficante, ler e-mails, marturbação, dar uma passadinha na Augusta, tudo é motivo para não começar a escrever. Some a isso um amigo sessentão que adora sair para trair a mulher e um hippie que toca harpa e leva o Zeca a uma "autêntica surubrâmane Zebuh-bhagadhagadhoga" (não pergunte). Esse ritual secreto só pode ser o acontecimento da vida do protagonista. Foi narrado em detalhes e, depois de voltar, o Zeca resolveu colocar a sua história no papel com a intenção de que pudesse virar um bom roteiro de um longa. O livro é todo narrado em estilo de diário não-linear, como se o personagem principal estivesse conversando com um editor de livros.

A primeira metade da história se resume a esse ciclo: Zeca quer se inspirar quimicamente para o roteiro e pede ao traficante para trazer mais droga. Ele fica tão louco que vai visitar prostitutas ou sai para encher a cara. Hiberna, acorda acabado de ressaca e pede mais droga/fuma um baseado para se inspirar e... Até que o traficante é atingido durante um tiroteio entre policiais e o PCC. Na frente da produtora do Zeca, que por acaso estava dentro do carro esperando receber uma peteca de cocaína. E é claro que depois que isso acontece na sua vida você foge para o litoral paulistano, na casa de praia de um amigo. A partir daí, José Carlos, fugitivo da polícia, tem uma vida de banhos de mar, corridas na areia e flertar com a dona de uma pousada local para conseguir free hospedagens e refeições.

Pornopopeia tem uma linguagem viciante. Bem do tipo que te faz sentar no terminal de ônibus e terminar o capítulo antes de andar para o estágio ou para casa. Mas não gostei. E não foi porque o Zeca é um machista ridículo, que fala cada coisa desnecessária (como soltar um barro antes de voltar a escrever sua história), irresponsável, que só continua com a mulher porque é sustentado pelo cunhado. Foi porque ele não existe. Em 660 páginas, não consegui imaginar um Zeca real. Tudo bem que estou viciada nessa coisa de efeito de real que aprendi na aula de redação de um jornalismo mais literário, mas um cara que mal toma banho e só se relaciona bem com traficantes e putas não é alguém que seduz pobres caiçaras das praias paulistanas e nem mulheres na menopausa só porque tem olhos azuis. Sem contar que se fosse para enviar um roteiro plagiando um comercial que o próprio Zeca já tinha produzido, não precisava demorar cinco dias para pensar nessa saída, hein. E olha que eu nem tenho tantos anos de procrastinação.

Zeca não convence como cineasta, nem como garanhão e nem como pai. Apesar das tentativas de Reinaldo Moraes resgatar a memória do Pedrinho, filho do protagonista com a esposa, em alguns momentos da trama. Pornopopeia não convence. Nem a Lia, a mulher traída. Ainda que ela seja a personagem mais legal da história por ser professora de ciência política e ter arranjado um amante bonitão. Mas quem ficaria tanto tempo sem pedir o divórcio e deixaria o irmão sustentar o marido fracassado? Olhos azuis não fazem tantos milagres.

4.10.11

Destrocando

Numa rápida retrospectiva dos últimos quatro anos, eu bem que falaria da separação da Sandy & Junior, do orkut perder lugar para o facebook, do Obama, da Dilma, do Niemeyer e da gripe suína. Deixaria de lado a queda do diploma, que aconteceu antes mesmo que entrasse na faculdade. Falo isso porque não escrevi aquela retrospectiva que abriu o post de aniversário atrasado do blog. Parecia eu, né? Mas foi a Kamilla, do Mundo Efêmero.

Há umas duas semanas, quando ela reclamava que tinha esquecido do aniversário (também de quatro anos) do blog dela, lembrei que eu também tinha esquecido do meu. Tive uma ideia maluca. E se cada uma escrevesse um texto pro blog da outra? Eu fingiria ser mineirinha mineirinha e a Kamilla, uma maranhense fora de casa. Não é que deu certo? Escrevemos os textos trocados, recebemos elogios indiretos e aposto que muitos de vocês nem perceberam diferenças de estilo. É claro que eu dei uma estudada nos posts dela pra tentar trazer um sotaque de Patos de Minas para minhas palavras. Funcionou? Lê o que eu escrevi lá e me conta: Do grego 'ephêmeros'.

Saudade, rap e UFSCTOCK

Imagine um festival organizado pelo DCE, alunos de uma universidade e coletivos independentes da cidade numa vibe woodstockiana. Assim é o UFSCTOCK (não resistiram ao trocadilho), que acontece no campus desde 2009. Ampliando o leque cultural da edição 2011, teve teatro, artes visuais, exposições e picnic. Entre as atrações, algumas bandas catarinenses, o rapper-mais-hype-de-Sampa Criolo Doido e até um grupo da Paraíba.

Criolo Doido lotou a tenda do UFSCTOCK com público que fugia da chuva chata

Foi uma semana de experimentação. Assisti a duas apresentações teatrais na Udesc (uma não vinculada ao festival, mas tudo bem) e vale lembrar que nem conheço os teatros de São Luís. A primeira era, na verdade, uma apresentação do ex-estudante de cênicas que mora comigo sobre como o corpo sente saudades. A outra, uma peça fruto das disciplinas de montagem desse ano e inspirada no texto de Brecht: O homem ajuda o homem?

Dançar rap e forró esferográfico ("uma caneta bic transforma o violão em um misto de rabeca, cello e violino, num tom mais grave") também não era algo que estava nos meus planos. O rap foi com o já citado Criolo Doido, com mais de 20 anos de carreira na música e arte-educador. A história dele é muito bacana, mas prefiro que você leia na entrevista das páginas negras da Trip sobre educação. O importante é que as músicas dele são poesia, dançantes e "nem parecem rap". Como escreveu um conhecido meu na cobertura do show, quem torceu o nariz quando soube que teria rap no UFSCTOCK acabou balançando esse mesmo nariz de cima pra baixo enquanto acompanhava as letras do Criolo. A verdade é que ele me conquistou com esse trecho da música Sucrilhos: "Cientista social, Casas Bahia e tragédia / Gosta mais de favela do que Nutella".

"São Paulo é um buquê. Buquê são flores mortas."

O tal forró esferográfico veio com a banda paraibana Cabruêra. Dizem que o começo do show foi um tédio só, eu perdi. Cheguei a tempo de ouvir solos de guitarra com referências nordestinas ao fundo, mas logo o vocalista sacou a caneta bic azul e ensinou a pegada esferográfica aos catarinenses & simpatizantes. Foi aí que a apresentação deslanchou. Teve trenzinho (não me atrevi), túnel de quadrilha e integrantes da banda se jogando no mar de universitários. O grand finale foi uma ciranda de cantigas de roda que tomou conta da tenda de 600m² da estrutura do festival. Largamos a mão para pular ouvindo Escravos de Jó num domingo à noite sóbrio. Eu estava ali no meio.

A última experimentação da semana é que eu cobri música pela primeira vez. A banda era a manézinha Felixfônica, que abriu o último dia de festival (ontem). Passei a semana ouvindo o cd cheio das referências nordestinas com rock progressivo e escrevi Baião, samba, maracatu e todas as referências pela cobertura colaborativa do site ufsctock.com. O outro texto que me fez ganhar pulseirinha de organização e crachá de imprensa foi sobre um piquenique inusitado, organizado pelo Coletivo Sem Fronteiras, que promove a utilização de lugares antes inexplorados da ilha.

25.9.11

Em tempo, aniversariando

No dia 10 de setembro o And make me smile completou o seu quarto aniversário. Muita coisa aconteceu durante esse tempo. Descobriram o pré-sal no Brasil; Michael Jackson morreu; a dupla Sandy e Junior se separou; Romário se igualou a Pelé e fez 1000 gols; o Orkut deixou de mainstream e perdeu lugar para o Facebook; o primeiro presidente negro foi eleito nos EUA; a primeira presidente mulher foi eleita no Brasil; Amy Winehouse morreu; Gripe Suína assolou o mundo; Tiririca foi o deputado federal mais votado do país; Steve Jobs deixou a presidência da Apple; Bill Gates não é mais o homem mais rico do mundo; ocorreu terremoto no Haiti; outro terremoto aconteceu no Japão; STF aprovou a união homoafetiva; STF dispensou o diploma para exercer a profissão de jornalista; Osama Bin Laden foi morto; José Saramago morreu e o Oscar Niemayer ainda está vivo.

Durante esse tempo, eu passei de estudante pré-vestibulanda, neurótica com os estudos, para estudante de Jornalismo. Olhando para trás, eu não apenas amadureci a minha escrita, mas minhas ideias. Da despretensão dos textos dos velhos tempos, para um compromisso maior com a escrita. Compromisso também pode ser lido e interpretado como um manejo melhor com as palavras. Não sei se adquiri isso com a vida, com as leituras que fiz ou com a faculdade. É bem provável que tem sido com essas três opções. Os textos antigos têm uma nostalgia com cadência tão fofa e tão menina-com-trancinhas. Não, eu nem usava trancinhas. Os textos mais recentes têm um tom mais independente e sabor saudades Guaraná Jesus.

Conheci Zooey Deschanel e me tornei sua fã, apesar de ouvir frequentemente das pessoas a minha a volta que ela é do tipo blasé e sem sal. Li mais livros da Isabel Allende, o que tornou o meu interesse pela América Latina cada vez maior. Perdi mais voos de avião e descobri que esse dom é genético. Não gostei da Reforma Ortográfica, embora tenha me rendido a ela. Afinal, serei jornalista, não posso desprezar a minha matéria-prima. Pela primeira vez, participei do Horário de Verão.

Foram temas dos meus textos: palestras que assisti, livros que li, filmes que vi, o meu cotidiano na faculdade, as minhas impressões do mundo a minha a volta, alguns momentos de pura arrilia, Maranhão, encanto e desilusão com o meu curso, alguns micos... O blog, além de ser o registro disso tudo, foi a fonte de novas amizades. Algumas eu conheci pessoalmente. Mas todas elas fazem parte diretamente da minha vida. Ora, eu me vejo lembrando de textos de vocês, ora me recordo da atenção que você me dão e dos comentários que deixam aqui. Com vocês têm mais graça comemorar aniversário e fazer essa retrospectiva.

8.9.11

Gregor

Há três anos, era obrigada a levantar cedo, colocar um uniforme verde e assistir aulas sobre platelmintos. Hoje tenho Kafka como leitura obrigatória. Isso sim é subir na vida.


Fico me perguntando se só eu imaginava que um dia Gregor acordava como um inseto e vivia como se nada tivesse mudado. Afinal, é assim que o livro começa:

"Numa manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregor Samsa deu por si na cama transformado num gigantesco inseto"

Não é o que acontece. Ele nem consegue se levantar, porque deixou de ser bípede e agora tem inúmeras perninhas. Também é óbvio que não continua a ir trabalhar.

Talvez seja meio trapaceira por ter terminado o livro depois da aula sobre Kafka, mas me identifico profundamente com o Gregor. Quem nunca acordou depois do horário e ficou se julgando pelo atraso, se martirizando ao mesmo tempo em que não sentia a menor vontade de levantar e começar o dia dali? Quem não a mesma dificuldade de Gregor para ficar de pé (ele acordou como um inseto emborcado), mas não era uma dificuldade física e sim psicológica? Quem nunca cansou da vida que estava levando e desejou acordar como um besouro gigante para ter razão em ficar em casa?

Kafka faz descrições geniais e fico me perguntando quantos besouros, baratas e afins ele observou para escrever esse livro. Nunca gostei tanto de um inseto.

5.9.11

Aqui não é casa dos espíritos

Enrolada nos meus cobertores quentinhos, dormia virada para parede quando senti um braço me empurrando e ouvi um sonoro "PSIU". Abri os olhos e vi alguém no banheiro, que fica em frente a minha cama. Pisquei e não tinha mais ninguém. Já sonhei com morcegos cortantes na Litorânea, em São Luís e que o Hélio Flandres era convidado da Semana do Jornalismo, mas esse pesadelo me deixou impressionada. E outra: era pesadelo?

Já li Zíbia Gasparetto, já fui numa sessão espírita, mas não me sinto muito bem falando sobre isso. Inclusive tenho medo de escrever esse texto antes de dormir. Os livros de Isabel Allende são recheados de mulheres que podem prever o futuro, entortar colheres e fazer dançar o açucareiro. Sem contar os espíritos que aparecem em sonhos (!). A clarividência dá um charme para A Casa dos Espíritos, Paula, De amor e de sombra e outras obras da chilena. Gosto de ler essas histórias. Não gosto de sentir presenças ou aparições-relâmpago no meu banheiro. Não quero ter nada de Clara, Evangelina ou da própria Isabel. Pode ser?

16.8.11

Não-lugar

Numa sala de embarque metade vazia e a outra também, ninguém senta ao meu lado, os poucos passageiros se distribuem na lanchonete, na livraria ou cada um está com seu eletrônico de estimação. Um homem de meia-idade passa pela minha fileiras de cadeiras cinza de assentos azuis, como boa marca da Infraero, e para em frente ao vidro que mostra um estacionamento de aviões e, mais ao longe, uma avenida muito movimentada. Eu nunca desci no Rio de Janeiro. O que eu conheço, além das experiências midiáticas, são essas imagens agora na minha frente. Alguns prédios, muitos morros. Morros mais altos que os de Florianópolis, habitados até o topo como os da capital catarinense. Ali ao lado, um morro que teve o topo aplanado para uma construção. Não tenho a menor ideia de que igreja é essa. Da outra vez que pousei aqui, pude ver o Engenhão e o Corcovado. Aqui tem uma loja que mostra camisetas I Love Rio na vitrine, vendendo experiências falsas para quem, como eu, só está de passagem. Estou num não-lugar.

"Você chega no não-lugar 
com a (carteira de) identidade 
nas mãos para provar sua inocência"

No conceito antropológico, lugar pressupõe uma relação com o espaço ocupado, o lugar tem uma história, é singular. O não-lugar é ocupado por pessoas em trânsito, caracterizando uma individualidade solitária, a passagem, o provisório e o efêmero. Esse aeroporto poderia estar em qualquer lugar do mundo. Mesmo olhando, através do vidro, para a cidade, quem sabe eu poderia estar em Florianópolis ou Kingston, na Jamaica. O mesmo vale para supermercados, cinemas e franquias do Mc Donald’s. O não-lugar não tem sentido nenhum para mim, nem para o homem com o paletó na mão que está indo para a lanchonete e nem para a mulher que estava sentada nesse mesmo lugar antes de mim. E o mais engraçado disso é esse conceito aplicado ao turismo. Hoje as pessoas viajam muito mais que antes e buscam refúgio em marcas e fast-foods conhecidos. Em lugares novos, a gente se encontra no Burger King (ufa, reconheci alguma coisa!), na latinha de coca-cola e nos shoppings. Até quando vamos atrás de uma Starbucks da vida é o reconhecimento das nossas experiências mediadas das séries e filmes americanos.

Já escrevi vários textos marcados como “voos atrasados”, sempre ficava intrigada observando aeroportos, pessoas nos aviões e até os próprios comissários. Depois que mudei de estado, essa vida passageira virou parte de mim, ainda mais com todos os vôos que realmente já perdi, Foi numa aula aleatória de Antropologia Social que esse conceito pulou na frente dos meus óculos para eu poder enxergar. Depois que decidimos que nossa primeira pesquisa de campo seria na rodoviária Rita Maria, a professora argentina falou no seu portunhol de sempre sobre o conceito de Marc Augé. O não-lugar não foi tão efêmero assim pra mim.

p.s.: Tanto que tentei finalmente criar outro blog com esse nome e, bem, o domínio já estava ocupado. Usando não-lugar ou qualquer uma das variações. E agora, Augé?

4.8.11

Os heróis jornalistas

Um país da América Latina passando por uma ditadura militar rigorosa, com direito à censura e a desaparecidos e que trouxe desenvolvimento econômico para os mais ricos. Esse é contexto de De amor e de sombra e, provavelmente, o pano de fundo preferido de Isabel Allende para seus livros. Resquício dos muitos anos de exílio que a chilena viveu na Venezuela e na Argentina.

O segundo livro lançado de Allende, em 1984, encanta pelo enredo: uma jornalista que vai atrás das pautas mais inusitadas, cega para as atrocidades do sistema, conhece um psicólogo que é obrigado a procurar outro emprego e vira fotógrafo. Irene e Francisco são colegas de trabalho e a paixão dele pela jovem extravagante e desinibida logo fica visível. O empecilho do romance é o noivo que Irene tem desde a adolescência: um militar de barriga tanquinho que está sempre em expedições fora do país.

Em paralelo, aparecem os Ranquileo, família pobre do campo com um patriarca que trabalha como palhaço em circos itinerantes no verão. A única filha do casal possui os dons clarividentes que Isabel Allende sempre inclui em seus livros. Evangelina, a menina, tinha alucinações sempre ao meio-dia, quando ela gritava fora de si e caía uma chuva de pedras invisíveis no telhado de casa. Logo foram atribuídos milagres para a "santa" e essa foi a pauta que Irene resolveu cobrir, unindo as duas histórias. A jornalista e o fotógrafo, durante a apuração, são testemunhas da invasão de militares que levam a jovem clarividente para a delegacia. Os protagonistas começam a investigar o sumiço da adolescente depois desse episódio.

Nessa parte, Francisco e Irene são dois heróis impulsivos que conseguem tudo o que querem. Irene mesma parece a melhor jornalista latina, que têm acesso aos lugares mais improváveis num país que vive uma ditadura pesada. Também possui os melhores truques para ouvir o que quer. Infelizmente Isabel Allende não dá essa aula de jornalismo e as manhas ficam subentendidas.

Logo no início, a proeza da escritora chilena em construir personagens impressiona. Assim como, em Jane Austen, você lê sobre cada gesto sutil das meninas do campo inglês e não se importa, em Isabel Allende você se pega lendo a biografia de toda a família de cada um dos protagonistas e não perde nada pela leitura ser desviada da ação central. Até aí De amor e de sombra é um típico romance allendiano: se passa na América Latina, têm uma crítica forte aos militares num contexto político, dons clarividentes e imigrantes. Quando você menos se dá conta, Isabel Allende dá lugar a uma autora de livros bobos infanto-juvenis e descreve uma cena de sexo assim: "uma formidável represa explodiu em seu ventre e a força dessa torrente o sacudiu, inundando Irene de águas felizes". É possível relevar essa descrição e continuar, mas a leitura acabou sendo um tanto entediante do meio para o final. O que salvava eram os flashbacks dos pais de Francisco que contavam suas aventuras de exilados fora da Espanha. Apesar de ter um final decente, a ação perde todo o sabor que tinha antes e as palavras contam tudo muito apressadas.

Isabel Allende conseguiu em De amor e de sombra escrever parte de sua biografia no casal protagonista. Irene era o lado da jornalista feminista de uma família tradicional. Francisco era o lado B: o humanista que ajudava opositores perseguidos pelos militares a fugirem do país e seguirem ao exílio. O que Isabel não sabia quando escrevia essa história é que Irene também teria um pouco de Paula, sua filha, na época com 21 anos. Irene e Paula ficaram internadas por algum tempo por problemas sérios, drama contado no livro Paula. Foi durante o coma da filha que Isabel ficou próxima de seu genro, que morava em outro país. Assim como Francisco só teve um contato maior com a mãe de Irene, que o odiava, quando a jornalista corria risco de vida. Isabel Allende deu um final feliz para Irene e, nem assim, conseguiu mudar seu destino. Perdeu Paula oito anos depois.

27.7.11

Nossa senhora da celulite


Esse é o retrato do fim de uma guerra contra caranguejos e peixes fritos na praia dos domingos, mas o assunto hoje não é comida.

Nossa senhora de celulite, eu sei que desde criança eu era do tipo que voltava de festas passando mal de tanto comer. Só a minha irmã era gordinha, mas nós duas deitávamos empanturradas no sofá da sala reclamando para mamãe da barriga quase explodindo. Cresci e não mudei muita coisa. Tanto que ano passado tive refluxo porque estava comendo além da conta e tomando muito refrigerante. Parei por um tempo de tomar esse veneno gasoso e me viciei no suco de acerola, mas foi só voltar a São Luís e tomar jesus que matei a saudade da coca, do guaraná e de todo o resto.

Em Floripa fica fácil me controlar, só tenho vontade de refrigerante quando já estou sendo gorda com hambúrgueres, pizza e lasanhas de microondas. Aqui na ilha do abandono amor, tomo jesus como água. Entoando minha prece: Nossa senhora da celulite, perdoai todas minhas gulas, todo meu olho gordo. Hoje sou uma falsa magra e já acho minhas celulites suficientes. Sei que todo homem que é homem de verdade não liga para essas coisas, mas não quero minha barriga e coxas furadinhas, não quero ser uma celulite ambulante. Perdoai minha falta de controle e me deixe ter overdose desse sonho cor-de-rosa enquanto ele é abundante.

26.7.11

Posso não ser teu bestseller

Passei a tarde inteira pensando numa comparação. Queria poder dizer que, sei lá, pessoas são como bestsellers:  algumas te oferecem uma amizade duradoura e estão ali o tempo inteiro, como o 1808 na lista dos dez mais da Veja. Besteira.

O que eu queria dizer é que tem gente na tua vida que é só passageiro, não faz parte da equipe de comissários. É claro que ainda acredito em amizade, não são crenças opostas. Sempre achei que universidade era o lugar de encontrar os amigos de verdade. Isso porque tanto a minha madrinha quanto a da minha irmã foram colegas de ciências contábeis da minha mãe. Não que eu não desse valor às minhas amigas de escola, algumas delas têm contato comigo até hoje, mas ficava imaginando que pessoas interessantes ia conhecer na faculdade. Quando minha irmã deixou de andar com meninas que antes eram tão próximas dela no curso, sinceramente achei que o problema era com ela. Como se todo amigo fosse coisa pra se guardar debaixo de vinte e cinco chaves e todo o lenga lenga. Nem todos são. Só fui perceber isso depois que passei pela mesma situação da minha irmã. Não na hora, porque a gente sofre quanto perde convivência com as pessoas, não tem jeito. Mas depois, quando vi que as pessoas que foram embora deixaram espaço para pessoas muito melhores.

É por isso que hoje me sinto mais capaz de perceber e aceitar um relacionamento enfraquecido, seja amizade, família ou qualquer coisa do tipo. Agora sei que somos tantos eus que dá vontade até de perguntar a todos e ao taxista ou à topmodel magrela na passarela, dando uma de orkut: Ei, quem é você? Não adianta forçar relações que tudo acaba em, quizás, meros conhecidos e, depois de algum tempo, numa conversa sem mágoas numa mesa de bar junto com tantos outros conhecidos e teus amigos perdidos ali no meio.

21.7.11

Soy antropóloga

“É pra qual jornal mesmo?” é a pergunta que acaba com qualquer entrevista feita por um estudante de jornalismo. Como falar para uma fonte, especialista ou dona de uma tapiocaria, que a reportagem é uma atividade de aula e não vai ser publicada? O entrevistado te dá nome completo, idade, celular, CEP e nome do cachorro enquanto o futuro jornalista foge de maiores satisfações e às vezes inventa um jornal-laboratório que não está produzindo.

O clima é outro numa pesquisa de campo antropológica. Você conversa com Eduardo, o segurança, João pipoqueiro e o José do guarda-volumes da rodoviária. Sem nem perguntar o sobrenome e ainda pode anotar que o José era medido a comunicólogo e o João, mal criado. A entrevista acaba e eles te deixam ir sem a pergunta que assusta principalmente aos calouros: onde vai ser publicado?

Jornalismo e antropologia não são cursos tão diferentes. O trabalho começa com apuração em campo e termina num escritório, quando é hora de escrever o texto jornalístico ou acadêmico. Teóricos das duas áreas tiveram a mesma ideia de associar os cinco sentidos à prática de cada profissão. Tanto Ryszard Kapuściński quanto Roberto DaMatta valorizam o jornalista e antropólogo, respectivamente, que ouvem, olham, cheiram e sentem suas pautas e seus objetos de estudo. Pelo menos na antropologia o mito da objetividade já foi derrubado e o eu do etnógrafo, quem faz a pesquisa de campo, aparece nas pesquisas mais recentes. O jornalista direciona entrevistas, decide o que fotografar e seleciona fontes, mas consideramos nossa prática objetiva. Preferimos a notícia livre da subjetividade que o preço da gasolina livre de impostos.

A apuração do antropólogo pode durar seis meses, dois anos, o tempo suficiente para ele conhecer toda a cultura de uma população numa ilha perdida do pacífico, no meio da selva amazônica ou no próprio bairro onde mora. Jornalista tem que agir como se conhecesse um estado a três mil quilômetros de distância depois de passar no máximo sete dias no local e ainda trazer informação relevante. Texto jornalístico não prevê um capítulo sobre dificuldades de pesquisa, principalmente com a economia de caracteres feita para caber anúncios cada vez maiores nas páginas dos jornais. Editor é a figura que o jovem jornalista mais teme. Nem se vê tentando vender uma pauta que precisaria de meses de apuração e, quem sabe, mais de um ano para escrever o texto completo, como num doutorado. Nesse caso, o editor perfeito seria o CNPq, a Fapesc ou orientador de TCC.

Uma dica que a professora de antropologia dá num portunhol enrolado aos estudantes, que não sabiam o que era pesquisa de campo até então, é para não se acostumar com os detalhes de uma cultura e anotar num diário todas as experiências. Se o pesquisador começa a achar normal a rotina de uma tribo que pratica rituais secretos e privados, logo acha desimportante o exorcismo de demônios bucais, o apego a poções mágicas e ao curandeiro e tendências masoquistas, como o rito exclusivamente masculino de raspar e lacerar o rosto com um instrumento afiado. Agora imagine um jornalista que propõe pautas como “Homens e mulheres utilizam hoje aparelhos movidos a um líquido amarelado para chegar aos locais de trabalho”, “Brasileiros se vestem para mais um dia” ou “1 milhão de bebês desconhecidos nasceram hoje no país”.

Com ou sem subjetividade e anúncios gigantescos deformando as matérias impressas, bom seria se o deadline pudesse esperar que os jornalistas compreendessem toda uma realidade e traduzissem a apuração num texto digno de Esso. E que os entrevistados dos ainda universitários, apressados com o próximo compromisso, esquecessem todos de perguntar do destino daquela reportagem. Como diria a professora, “A diferença entre antropologia e jornalismo é que ninguém sabe o que é antropologia”. O João pipoqueiro era tão mal criado que nem quis saber por que eu estava fazendo tantas perguntas.

p.s.: Crônica produzida para a disciplina de Redação V e que será publicada na Zero Revista assim que terminarmos de arranjar ilustrações e diagramar.

18.7.11

Crise do meio curso

Que escola e faculdade são dois mundos diferentes todo mundo sabe. Não preciso mais usar uniforme, nem lidar com as crianças do pré correndo para lá e para cá. No máximo, fico desviando dos motoqueiros que insistem em andar nas calçadas da UFSC. Mas a maior diferença entre os dois tipos de estudo é que, na preparação para o vestibular, se teu cérebro se recusa a aprender sobre nematelmintos, você não morre chegando sem saber sobre o assunto no dia da prova. Na faculdade, você não pode ignorar um trabalho ou um texto qualquer, porque é claro que ele vai estar na prova. 

O pior é que eu sempre fui do tipo que desiste. De física eletromagnética, de qualquer detalhe sobre botânica, de questões mais complexas de estequiometria e tipos de vegetação. E fico me perguntando como tinha sobrevivido nesse mundo ufsquiano até agora. Nesse semestre, me matriculei em mais matérias do que deveria, continuei com o estágio de 20 horas, comecei a organizar uma semana acadêmica e desisti de uma disciplina. Assim sem mais nem menos. Porque não estava afim de apurar a reportagem final. Mas não deixei de usar como punição para me mostrar que se eu quiser fazer alguma coisa, tenho que fazer direito. 

Comecei o semestre muito empolgada com as disciplinas, mas tinha tanta coisa que acabei sem tempo para fazer nada direito. E agora eu teoricamente tenho um semestre antes de começar a pensar no TCC. Onde aperta o reiniciar do curso de jornalismo?

15.7.11

Aquele-que-não-deve-ser-nomeado

Nunca fui de demonstrar meus sentimentos. Nem lembro quando meus pais me separaram, mas não chorei quando passei no vestibular, nem quando peguei o voo para Florianópolis sem a passagem de volta... Fria, fechada, tímida, orgulhosa, chame como quiser. Demorou muito para cair a ficha de que estou separada de muita gente importante da minha vida, demorei muito para chorar lembrando de casa. E foi por isso que eu achei que faria parte das pessoas que não chorariam assistindo a última parte do último filme de Harry Potter. Claramente não fiz.

Dez anos atrás, em dezembro. Aeroporto Marechal Cunha Machado. Talvez nem fosse internacional ainda. Lembro que a livraria era num lugar diferente do que é hoje e eu passei lá antes de fazer a primeira viagem sem meus pais. Eu e minha irmã voaríamos até Salvador sob os cuidados das aeromoças - que naquela época ainda não eram chamadas de comissárias de bordo - na primeira poltrona do avião. Escolhi um livro. Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban. Nunca fui boa de identificar se a obra fazia parte de uma série. Terminei de ler antes do Natal e eu e minha irmã ganhamos de presente os dois primeiros volumes da coleção. No avião de volta, outras meninas da nossa idade também liam Harry Potter. Era o início da febre.

Foi a partir desse momento que passei a esperar ansiosamente por cada livro lançado e sabia que fazia parte de algo maior, que aquela espera que tanto me deixava ansiosa, curiosa, desesperada para saber até a última palavra de um volume, só a minha geração ia viver. Não vão saber como foi o gostinho de encomendar livros que acabavam de sair do forninho elétrico da J. K. Rowling, a primeira personalidade feminina que eu admirei na vida. Vieram os filmes - ruins -, o jogo para computador, muitas camisetas e Quadribol através dos séculos. Fui crescendo e os livros acabaram. Sete só? Podia fazer mais... Não? Como que para suprir nossa sede pottermaníaca, os filmes ficaram cada vez melhores até chegar a essa última parte, que mostra um enquadramento desnecessário só para a gente dar uma olhadinha na Madame Pomfrey depois de tanto tempo.

Se no filme passado eu já me mantive firme com a morte do Dobby, mordi forte os lábios quando o Snape foi morto hoje. A menina do meu lado já estava soluçando, soluçando de tremer mesmo. E eu pensando que a situação era ridícula. Não deu nem dois minutos e desandei de chorar com as imagens das lembranças do Severo. Assim, baixinho, achei que eu podia controlar, que meu amigo do meu outro lado nem ia perceber, e aí não deu, eram muitas lágrimas, tinha que enxugá-las, assoar o nariz. Chorei mesmo. E me pergunto se não foi o único filme que chorei de verdade nessa vida.

Sem querer fazer discurso de odeio-pessoas-que-gritam/aplaudem-no-cinema, mas quando o filme começou sem a música tema da série, já imaginava que os editores teriam deixado pro final. Vale a pena morrer de bater palma e não ouvir aquela melodia? Mesmo?


A nossa geração tem muito o que agradecer à Rowling por toda essa série, cheia de falhas no texto dos primeiros livros ou alguns detalhes um tanto ridículos, e aos nossos pais que tanto nos aguentaram pedindo mil e um produtos potterianos. Não é fácil popularizar tantas palavras aleatórias como trouxas, quadribol, wingardium leviosa ou horcruxes. Agora fica o vazio. Até arranjar saco para reler todos aqueles livros que já nem tem o título na capa de tão usados e fazer uma maratona com os filmes. Tenho muito orgulho de dizer que minha vontade de leitura começou com Harry Potter. E que, desde que me entendo por gente, Harry, Ron e Hermione eram como aqueles amigos distantes que não precisavam estar ali o tempo todo, mas quando vinham...

Outros textos
Sobre Harry ser meu herói
Sobre a primeira parte de Deathly Hallows

10.7.11

Todo jornalismo é investigativo?

O 6ª Congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) foi, como já esperava, bem diferente das minhas experiências acadêmicas no campus da Trindade. Viagem de ônibus, quarto triplo e a desvantagem de ficar carregando minha mala cor-de-rosa e florida em alguns momentos. Valeu a pena para entrar em contato com profissionais muito competentes e assistir a palestras com jornalistas já formados, alguns que foram de Manaus, Salvador ou de Fortaleza. Desisti de falar de cada palestra, não ficaria muito produtivo.



Recebi dicas de como trabalhar em equipe para produzir grandes reportagens de uma jornalista d'O Globo que cobre administração pública. Interessante pensar que, para tocar projetos como o acompanhamento da evolução salarial de deputados do Rio de Janeiro, os jornalistas tiveram que trabalhar fora do expediente e fazer uma baita pré-apuração antes de vender a pauta aos editores. 

Ouvi um pouco sobre o impacto do vazamento de documentos pela Wikileaks no jornalismo pelo islandês que é o número dois da organização. Ele também falou o nome daquele vulcão impronunciável para estrangeiros: Eyjafjallajökull. Mas a melhor parte foi quando Natália Viana, da Agência Pública, falou dos  documentos sobre o Brasil e contou das parcerias com a Folha e O Globo.

O debate sobre rádio e TV foi caloroso. Boechat e Heródoto Barbeiro (pai dos manuais que eu li quando caloura) têm uma presença muito forte e opiniões pertinentes, às vezes contrárias, sobre os dois veículos. Algo muito interessante que o Heródoto falou foi que jornalistas têm o hábito de confundir suporte com novo veículo de comunicação. A transmissão de sons através da internet continua sendo rádio. E, olha, se eu fosse homem e não tivesse um vozeirão desses ficaria um tanto frustrado.

O evento oferecia várias palestras ao mesmo tempo e acabei optando por uma sobre jornalismo e tablets em vez de assistir ao João Moreira Salles. Continuo interessada pelo assunto, o problema foi que nenhum dos participantes sabe o que será do jornalismo para tablets. Fiquei com a sensação de que ninguém do jornalismo brasileiro sabe, sei lá.

No último dia, tive palestra com o Marcelo Tas que mostrou, novamente, que tem muita coisa interessante para passar para gente. E percebi também que os outros estudantes de jornalismo só queriam saber sobre o "Proteste já!" e eu queria saber sobre jornalismo de humor, o tema da conversa. No comecinho, foi tão legal ouvir sobre os limites do humor no jornalismo, que às vezes a precisão jornalística é abandonada e depois o assunto desandou.

Tive contato também com um programador e jornalista do NY Times que falou sobre jornalismo de base de dados. Muito interessante, mas a plateia, eu inclusive, não soube fazer boas perguntas para que ele desse boas pistas de como a gente pode fazer o que eles já fazem muito bem.

Assisti a outras palestras que não comentei aqui, experimentei usar iPads que o Estadão disponibilizou e recebi jornais de graça. Nós 600 participantes do congresso conseguimos acabar o café da lanchonete da Anhembi Morumbi, anotamos muito nos nossos bloquinhos personalizados e perseguimos muitos jornalistas depois das palestras. Nós da Semana do Jornalismo da UFSC aproveitamos para fazer contatos, conseguimos fechar a mesa sobre jornalismo no Oriente Médio, fizemos o Moreira Salles finalmente confirmar presença na palestra de encerramento e tivemos ideias de trazer pessoas que estavam faltando na nossa programação.

Ano que vem estarei lá de novo e não perdoo os futuros focas de Sampa que não forem (Sim, estou falando de você, Lu). Só tomarei cuidado para pegar palestras mais práticas e aprender coisas de verdade.

Mais: Cobertura completa do evento.

3.7.11

Sobre a não-Cachaça, um cover de Beatles e falta de luz

Congresso em Sampa, assunto para outro dia, estava cansada da viagem de ônibus, na noite seguinte de ter ficado até 3h terminando um artigo para a faculdade e resolvi acompanhar o grupo para badalar sexta à noite. Passeio pela Paulista e Augusta, fomos para o Studio SP assistir a um show do Vanguart com covers dos Beatles. Estava tipo UAU vou ver Hélio Flandres de novo nessa vida, porque passei a gostar ainda mais deles depois do show que fui em Floripa e meus amigos se empolgaram porque um era cuiabano (cidade da banda) e o resto gostava muito dos Beatles.

Chegamos cedo e esperamos a casa encher, o que deu tempo para analisar todos os desenhos interessantes das paredes estilo galpão e escutar milhares de músicas alternativas demais até para estudantes de jornalismo. Veio uma Amy Winehouse perdida e, logo depois, She & Him com In the sun. Demorou muito para chegar ao nosso nível alternativo, quando dançamos um pouco e logo o show começou. Logo nada, que atrasou quase duas horas. Não dá nem para esboçar uma ordem do repertório depois daquelas cervejas caríssimas e da quantidade de informação que absorvi nos três dias de congresso sobre jornalismo investigativo. Sei que Can't buy me love tocou no começo seguida por outras músicas dançantes. Também ouvi Hey Jude, Come together, And I love her e o resto é realmente difícil de lembrar.

Sair em Sampa foi interessante e tudo, mas não contava com a má educação dos paulistanos. Uma coisa é uma desavisada pisar em você com aquele salto fino, outra é um marmanjo de 1,90 te empurrar para ficar bem na sua frente durante o show. Sem contar as pessoas que insistiam em fumar ali dentro e a falta de seguranças que, se estavam ali perto, não faziam nada. Mas não vi nenhum deles perto de mim.

Voltando ao Flandres, Reginaldo-bota-chifre-em-rede-nacional e guitarrista estranho, o show foi divertido, tirando a bola que o vocalista dava para os bêbados idiotas que insistiam em subir no palco. E a participação também da tal Bluebel (who???), uma horrorosa que estragou todas as músicas que cantou e, no final, teve seu microfone desligado porque até o cara do som percebeu que ela não deveria estar ali. Confesso que queria pelo menos uma musiquinha deles, de preferência Para abrir os olhos ou a símbolo Cachaça. Principalmente porque eles anunciaram que vão lançar disco novo em breve. Músicas que ouvi em Floripa nunca mais.

Tava tudo muito Vang Beats, mesmo com o gordo-alto-bêbado-que-foi-um-dos-que-fumou se balançando de um lado pro outro e esbarrando no maior número de pessoas que conseguia, até que a banda voltou para o bis e o microfone parou de funcionar. Depois de muita reclamação, ok, entendemos que não o som não ia voltar e estávamos conformados em ir logo embora. Só que aí faltou luz em tudo. Resumo da ópera: todos corremos para a fila, o segurança me barrou de acompanhar três dos meus amigos e tive que ir pagar em outro lugar. Depois de muita espera e confusão de bêbado, esses três amigos saíram sem pagar porque o sistema da comanda dali não tinha voltado. Eu e outros dois pagamos. Chegamos no hotel às 5h (sem ouvir que são cinco e meia da manhã e eu vou sair pra talvez te encontrar) e duas horas depois acordados para arrumar as malas e assistir a primeira palestra do sábado. Bom dia.

26.6.11

Lá em casa é melhor

"Quantas maranhenses com menos de 20 anos você conhece morando em Floripa com dois amigos gays (que não são um casal) e estudando Jornalismo?" Essa descrição é muito boa, mas não fui eu que inventei, foi a Kauane. No começo do semestre, passei uma semana estagiando numa projeto crossmídia de revista e programa de TV voltados para quarentonas ricas. Éramos uma equipe formada apenas por mulheres, tirando o diagramador frila, e não tinha nenhum espelho na redação. O trabalho era tão legal por lá que eu não durei nem duas semanas, a minha amiga que tinha me recomendado também resolveu sair na mesma época e a Kauane, do setor comercial, estava cogitando outras propostas de emprego.

No dia em que avisei minhas chefas que tinha arranjado um estágio que pagava melhor para trabalhar menos, a Kauane também tinha sondado a chefa mais tranquila se poderia manter aquele emprego junto com outro. Recebeu um não. Nesse dia, almoçamos juntas. Ela tinha uns vinte e seis anos, morou no interior do Ceará até os 14, veio morar com uma tia em Florianópolis e com 16 casou e teve filho. Gostou da minha história de me mudar aos 17 e bem aleatória só para estudar Jornalismo. Foi a única oportunidade que tive de conversar de verdade com Kauane, depois nunca mais a vi. Mesmo assim, me identifiquei com ela. Da mesma maneira que eu me identifico com a paraibana que tem uma tapiocaria aqui perto de casa e "importa" farinha lá do estado dela para fabricar a melhor tapioca (ou o beijú, como nós maranhenses gostamos de falar). Nem a carne seca que ela usa é daqui do sul.

Não é nenhuma novidade o meu regionalismo forte. E é por isso que eu gosto de conhecer esse tipo de pessoa, com sotaques parecidos e diferentes do meu, com histórias de vida que talvez nem tenham relação com a minha, mas que compartilham dessa identidade comigo. Isso funciona como uma brecha na pós-modernidade, quando tudo que é sólido desmancha no ar, das identidades fragmentadas. Sou mulher maluca pra me assumir feminista, universitária, projeto de jornalista e filha da classe média sofredora, mas me reconheço mesmo como nordestina. Desculpa Stuart Hall, você que não se considera nem jamaicano nem inglês, mas eu não sou cidadã do mundo.

Deve ser por isso que eu fico tão triste quando conheço sergipanos, cearenses ou até mesmo maranhenses que ignoram nossa terra cheia de palmeiras e sabiás. Que seja ao menos como uma maranhense que eu conheço, se mude para Floripa seguindo os passos dos dois irmãos mais velhos, que seja, mas disfarce na hora de dizer por que mudou de cidade e garanta: a universidade, o clima, as pessoas, tudo lá em casa é melhor.

Edição: obrigada ao James, que identificou um erro de continuidade no meu texto! Essa descrição não fui eu que inventei e tinha esquecido de dizer quem tinha falado essa frase. E foi a tal Kauane.
No mais, eu não estou falando que o Maranhão é o melhor lugar do mundo, mas que não é porque eu me mudei pra estudar numa universidade mais estruturada que São Luís é a pior cidade do mundo e não tem nada de bom. Deu pra entender?

20.6.11

Shhhhhhh!

A única balada de Floripa com vista pra ponte Hercílio Luz. Três djs tocando ao mesmo tempo. Headphones sem fio e a opção de escolher qual festa você queria acompanhar. Canal 1, rockzinhos animados na "disaster", canal 2, clássicos do pop na "2manyhits" ou o canal 3, músicas de pura vergonha alheia na "trashyk". Fui numa das festas do clube do silêncio, que tem acontecido no Brasil e fora daqui também. Era a segunda edição aqui em Florianópolis.


Usando o headphone, a festa acontecia também fora da pista, no banheiro, na área de fumante, na fila pra pagar a conta e na escada derruba-bêbado do lugar. E se você tirasse o fone, só encontrava silêncio nesses locais pouco ocupados. Na pista, cada um canta a sua música, dança a seu estilo. Os djs lutam para que a casa inteira cante a música do seu canal. Eu me arrisco a dizer que as músicas mais unânimes tocaram na trashyk. O auge da noite foi quando todos cantamos Olha o que o amor me faz, clássico da nossa geração do final dos anos 80 e começo dos 90, com direito a performance do dj. A verdade é que esse reservou muitas coreografias para a festa e eu mudava para o canal dele só pra acompanhar.

Robocop gay, Raimundos, lady gagaísmos e clássicos como I wanna rock and roll all night e Girls just wanna have fun também formaram coros. Mesmo com o volume no máximo (sim, isso também era regulável), era difícil escutar o que eu queria se não quisesse acompanhar a maioria. Porque, né, me desculpa, mas Raimundos não desce pra mim.

Os momentos de não-tá-tocando-nada-bom foram raros. Ganhei minha noite com as músicas de sempre (1 2 3 4)  e fui feliz rebolando devagar e depois desce, na boquinha da garrafa, declarando que a cor dessa cidade sou eu e arrasando na dança do ventre com a música da Jade. O sucesso ficou pra banda Uó, a nova maneira de ouvir tecnobrega e ainda parecer cool.


Os seguranças também receberam fones. E ficavam trocando de canal que eu reparei, hein. Chato vai ser ir a outras festas sem a opção de escolher a minha música, sempre fui viciada em ficar trocando de estação no rádio ou pulando pra próxima no aleatório do media player. Quero liberdade musical. Quero poder dançar música diferente da que meus amigos dançam. Quero meu headphone de volta!

17.6.11

Não era o dia

Madame Bovary. Tenho vontade de ler esse livro antes mesmo de odiar o professor de literatura que adorava. Nunca tive a oportunidade e esqueci dele pra sempre até Malu de Bicicleta, história que gira em torno desse livro. Voltou a vontade, mas olha a minha cara de quem ia até a biblioteca pegar esse livro, não estou lendo nem Hemingway.

A minha aula surrupiada de antropologia social fica no centro socioeconômico e a lanchonete de lá é um dos pontos mais movimentados da universidade à noite. Eram umas 20hrs e fui tomar um café com a minha amiga do jornalismo. Chegamos perto da única mesa - de plástico mesmo e vermelha - livre e olhamos um livro. Madame Bovary. Hesitamos, mas sentamos ali. Ninguém apareceu para buscar. Não tinha nome, dedicatória, nada. Era uma daquelas versões clássicas de capa dura verde e fios dourados.

Olha, quem tem a capacidade de esquecer livro em lanchonete da UFSC não tem a menor chance de lembrar onde deixou. Mas aquela edição novinha piscando me deu certeza que fora deixado ali de propósito. Não sei se está cadastrado em um daqueles sites onde as pessoas cadastram livros que "perdem" conscientemente por aí, não sei se o dono queria repassar a leitura de uma maneira diferente. Sentia que o livro me pertencia, mas o pastel gorduroso acabou, minha amiga me repreendeu e, mesmo argumentando que alguém que nem gostasse de literatura poderia roubar o livro, ela não concordou muito que eu pegasse. Ou foi ela que incentivou e meu super ego projetou o sentimento de culpa? A aula recomeçaria em breve, levantamos e fomos. Com as mãos livres. Nos encontraremos de novo, Madame Bovary.

13.6.11

Mais da semana tibetana

O monge Tenzin Thutop trabalhando pacientemente na mandala

No início do ritual de desmantelamento, eu já estava posicionada com a câmera.
Claustrofobia define, olha o tanto de gente.

A areia da mandala foi varrida com uma vassourinha como se ela fosse um nada.
Triste, não nasci pra ser budista.

Essa mandala de areia construída e desmantelada no hall da reitoria me marcou bastante porque foi meu único contato com a cultura tibetana e a religião budista. Sem contar o significado desse ritual, que purifica o local onde é realizado. E sabe por que a mandala é destruída? Para preservar a aura da arte (ela sempre será lembrada como naquele momento, quando estava perfeita) e para simbolizar a impermanência das coisas. Além de praticar o desapego, o budismo é pós-moderno, líquido e "tudo que é sólido desmancha no ar". Vejam só!

O encerramento da Semana Tibetana teve uma mesa de discussão sobre mídia e Tibete. Foi o único evento acadêmico que eu paguei na minha vida ufisquiana e lá se foram vinte pilas. Valeu a pena. Arthur Verissimo, o gonzo da revista Trip, faltou e não fez falta. Haroldo de Castro, da Época, Luis Pelegrini, da Revista Planeta, e Airton Ortiz, escritor solto na vida, foram os participantes. Todas as experiências compartilhadas eram muito interessantes. Mas a melhor história foi a do Airson Ortiz, reacendendo o desejo de mudar o mundo que todo projeto de jornalista tem. Já tinha deixado isso de lado, pra falar a verdade, nunca tinha pensado muito no lado super-herói dos jornalistas, mas aí veio o Ortiz com seu chapéu de Indiana Jones....

Na época que foi ao Tibete, em 2000, não estavam deixando entrar jornalistas. Na Índia, recebeu a proposta de entrar lá com identidade, visto e passaporte falsos. Aceitou e foi como assistente de um professor da Unicamp que nem sabia da história. Em contrapartida, deveria entregar uma carta para um tal tibetano. Aceitou, entregou a carta, fez suas reportagens. Tempos depois, a terceira pessoa na hierarquia budista e sucessor do próprio Dalai Lama conseguiu fugir do Tibete dominado pela China através do Himalaia e foi buscado por um avião clandestino no Nepal. A carta que Ortiz entregou informava o local e horário de partida desse avião. Agora minha referência de jornalista de qualidade é ajudar a salvar um futuro Dalai Lama. Simples assim.

Mais informações
Haroldo de Castro postou no blog da Época sobre a mandala e a Semana Tibetana
Fotos que o pessoal do Cotidiano.ufsc tirou

9.6.11

Guichê 9

Dia dos namorados chegando. E daí? Não tenho namorado e nem por isso preciso ficar morrendo de tristeza por estar sozinha. Até porque é culpa do destino. Faz um tempinho já que li uma crônica do Antonio Prata (não consegui achar o link, se alguém lembrar, compartilhe!) sobre pequenas apostas do cotidiano do tipo "Se eu não conseguir passar antes do semáforo ficar vermelho, meu time vai perder". Inspirada, resolvi experimentar o jogo na última vez que fui colocar crédito no cartão do ônibus. Tinha um atendente muito muito bonito e pensei "Se minha senha cair no guichê dele, minha vida amorosa vai deslanchar!". Não caiu por uma senha.

Então só me resta aceitar o azar e apostar minha vida amorosa em outro momento para ver se alguma coisa muda nesse marasmo. Enquanto isso, posso me presentear em vez de presentear alguém e escutar a mixtape que homenageia o amor verdadeiro que a Irena preparou. Acompanho todas as seleções que ela faz desde o começo e posso garantir que são sempre muito boas!

5.6.11

Ela faz cinema


Serei eu meramente
Mais um personagem efêmero
Da sua trama?

Tem curso de Cinema na UFSC e ele fica no mesmo centro de ensino que o Jornalismo. Agora me pergunta se eu conheço alguém que faz cinema? A aleatória que morou comigo durante seis meses e que pouco conversei não conta. 

3.6.11

Monge tibetano

O interessante de Universidade Federal são os eventos curiosos tipo o concurso de cartazes contra homofobia. E mais estranho do que realizarem uma semana de cultura tibetana aqui em Floripa é a II Semana de Cultura e Arte Tibetana. Tirando as palestras, jantares temáticos, exposições, tem um monge no meio da reitoria da UFSC construindo uma mandala de areia desde sábado passado. Ele vai montando a mandala praticamente de grão em grão das 9h às 18h. Eu que estou fazendo a disciplina Telejornalismo II para aprender alguma coisa de tele nessa vida resolvi cobrir isso. Beleza.

Ontem fui no meu horário de almoço fazer as primeiras imagens. Sozinha, porque minha dupla resolveu viajar pro interior do Rio Grande do Sul para um evento de modelos. Só espero que ela não vá direto de lá para a Europa, vai que. Os equipamentos daqui são OK, mas cada tripé, por exemplo, está quebrado de uma maneira diferente e você tem que aprender a lidar com esse tipo de defeito. O de ontem de vez em quando escorregava e a câmera que custou 20 mil reais (em 2000, hehe) poderia cair no chão a qualquer momento. Lembrando que eu estava sozinha. Desisti desse tripé problemático e fui fazer câmeras nervosas tentar fazer imagens estáveis mesmo sem apoio. Fui deitar o tal tripé no chão e, tcharã, meu sutiã rompeu, quebrou, ali no meio da reitoria. Continuei as imagens e só depois fui dar um jeito no probleminha.

Hoje era a aula de Tele2, o professor deu uma olhada no que eu tinha gravado e acabei saindo para gravar, de novo sozinha oh vida, imagens que faltaram. O tripé de hoje era infinitamente melhor, tudo estava dando certo. Daí o monge fez uma pausa e lá fui eu metida com minha câmera entrevistá-lo. EM INGLÊS. Ele estava sentado, então fui sem tripé e deixei o tal encostado num canto. Entrevistei um monge budista. Que falava inglês. E consegui fazer um enquadramento com o tripé no fundo. Parabéns, Luisa!

Não achei foto decente da mandala, então aí vai o boletim da TV UFSC enquanto o meu não fica pronto.

28.5.11

Um dia ela vai sair de cena

Nina Lemos, jornalista da revista TPM, veio para a 9ª Semana do Jornalismo no ano passado. Antes disso, não conhecia os textos dela. Não curti muito o 02 Neurônio, mas fui babysitter dela no evento. Ela era muito fechada e o máximo que fizemos juntas foi procurar o blackberry dela na padaria perto do hotel. Hoje me surpreendi com uma reportagem da revista e só depois vi que era da Nina. E aí eu entendi porque ela é tão reconhecida.

"Não grita comigo!" fala sobre agressões que as mulheres se acostumam a sofrer nos relacionamentos. Não só apanhar, sabe. Mas tolerar gritos, vozes mais altas, xingamentos, falta de educação. A parte que fala sobre a razão das mulheres não caírem fora faz muito sentido. A gente continua para testar nossos limites, às vezes responde na mesma moeda e testa os limites deles também. Esse é o tipo de texto que toda mulher tem que ficar lembrando quando começa a estabilizar um relacionamento. Por mais que eu ache que a gente só se toque sobre esse tipo de coisa depois de passar pela experiência. E, uma vez sendo tratada mal, desmerecida e todo o resto, é para nunca mais.

24.5.11

E os olhos cheios de mágoa então

Para ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=rYEDA3JcQqw&feature=player_embedded#at=101

Atordoada ela se foi. Gritos no banheiro de um pub baladado. Gritos que disputavam com o volume excessivamente alto da banda que tocava há pouco tempo. Uma frase, não, a frase que ela não queria escutar. Desistiu de tentar mais uma vez. Tirou forças não sabe de onde, deu um esbarrão. De propósito, também não sabe o porquê. Saiu apressada desviando das mesas, lugar apertado. Só queria sair dali. Tentam impedí-la, ela só tem vontade de gritar. Gritar a angústia, tira essa amargura do meu peito, gritar para a rua inteira ouvir, gritar para sua voz chegar doutro lado da ponte. Não grita, apenas fala alto. Quer sair dali a qualquer custo, me solta, me deixa ir. Fica livre. Não da amargura, nem da angústia. Encontra a noite, um princípio de vento sul adiantando que o outono acaba em breve. Celular na mão. Não ia ser estúpida de quebrar outro celular por raiva. A coincidência é que a mesma pessoa causaria o incidente. E fazer o que agora? Dá alguns passos cambaleantes, nem estava bêbada. Lembrou que estava de salto alto, um scarpin coral que pouco correspondia com o que estava sentindo. Tirou os sapatos, ainda sem entender o que estava fazendo. Quando deu por si, corria. Corria como não o fazia há bons anos, talvez desde a época que brincava de pega-pega. E, talvez, fosse normal encontrá-la correndo, ali na Beira-mar, se não fosse o scarpin na mão, a maquiagem pesada e a saia de cintura alta. Noite. Beira-mar quase deserta. Atravessou três ou quatros ruas transversais sem olhar para os lados, sem se preocupar se o sinal estava fechado ou não. Acreditava no semáforo. Desistiu de atravessar a própria Beira-mar e suas quatro pistas em cada sentido com a mesma rapidez que desistiu de jogar o celular no chão. Adrenalina, se perguntava o que os porteiros dos prédios caréssimos estariam pensando, foda-se, continuava. Nunca se sentiu tão viva, nunca sentiu tanto. Tanto que o peito começou a arfar. Não era cansaço. Apesar do sedentarismo. Era o choro descendo pela primeira vez na noite. Era o choro engolido há quase uma semana. Chegou no ponto de ônibus e sentou. Chorou. Chorou sozinha. Não conseguiu xingar os idiotas e possivelmente bêbados que passaram de carro fazendo gracinha. Gritou no meio da rua, esperniou, chorou até molhar a blusa branca. Nunca tinha passado por uma crise nervosa.

23.5.11

16 semanas


Faltam exatas 16 semanas para começar a 10ª Semana do Jornalismo, evento criado em 2000 pelos estudantes de Jornalismo da UFSC e que deixou de acontecer em dois anos por causa de greves. Tradicionalmente é o pessoal da quinta fase que guia a organização do evento e vocês lembram quem está cursando esse período, né? Ano passado já tinha me envolvido, fazendo contato com os ministrantes dos minicursos e tomando conta dessa parte da infraestrutura. Agora esse envolvimento é muito maior, tem que coordenar, pensar no patrocínio, na programação, nos convidados, bem tranquilo pra quem não tem uma minutinho livre no horário comercial. 

Ainda não temos nenhum convidado confirmado. Já fizemos uma webconferência com o Marcelo Tas, que atingiu mais de 1500 visualizações. O Tas veio na 7ª Semana do Jor em 2008, ainda era vestibulanda e era o primeiro ano do CQC. Queremos fazer mais webs com convidados legais que já participaram das outras semanas, uma das maneiras que pensamos para reinventar o evento e comemorar a décima edição. 

O que você(eu) faz(faço) quando está organizando uma semana acadêmica:

1) Tentar projetar a voz para que as pessoas te escutem nas reuniões semanais e ainda ter que fazer a ata.

2) Pensar em temas interessantes e procurar possíveis convidados que possam encher o auditório.

3) Ajudar na elaboração da identidade visual sem entender bulhufas de design.

4) Pensar em 1001 maneiras de arrecadar dinheiro e implorar patrocínios.

5) Numerar rifas de madrugada.

6) Dançar com uma máscara de Patrícia Poeta/Bonner/Fátima/Tiago Leifert/Cacau Menezes na fila do Restaurante Universitário para divulgar a festa Boa Noite!, também para arrecadar dinheiro...

7) Mandar um e-mail super querido pro Antonio Prata, convidando-o para uma palestra, e receber um não porque ele até hoje não terminou o livro da coleção Amores Expressos e precisa se dedicar a dois projetos.

8) Passar boa parte do domingo editando um vídeo de divulgação da mesma festa Boa Noite! e ele não ficar como você queria.

9) Trocar uns dez e-mails por dia sobre o assunto, imagina quando chegar mais perto do evento.

10) Delegar tarefas, a pior parte. Dá vontade de fazer tudo sozinha, mas né?!

14.5.11

Praia da Joaquina 23/04

 











Learning to live

Ou o que aprendi morando sozinha em Floripa

1) Faxina não tem hora para ser feita. Acabei de limpar as áreas comuns de um apê de três quartos e minha suíte às 1h38. Um adendo: Visita dos pais é um bom incentivo para fazer uma limpeza caprichada.

2) Lasanha congelada realmente engorda.

3) Cozinhar macarrão com molho bolonhesa de blusa branca não é uma boa ideia.

4) Lavar banheiro tem seu lado bom, enquanto limpar sapatos é só desgastante. Lavar louça continua sendo legal quando não está frio.

5) Strogonoff semi-pronto é bem digerível.

6) Steak de frango + queijo + molho de tomate = frango à parmeggiana.

7) Máquina de lavar é deus. Isso você entende depois de passar um mês lavando suas roupas todas na mão.

8) NUNCA deixe o fio do ferro de passar no seu caminho. Já tropecei e ele caiu - ainda quente - no meu braço. Não foi interessante.

9) Não passar roupa com sono. Queimei meu dedo outro dia...

10) O Habib's não entrega no meu bairro, mas o Ragazzo sim e oferece bibsfiha's, beirutes e quibes.

13.5.11

Aprochegue-se

Be cool. Algumas pessoas de Floripa têm a mania de dizer isso. E eu tenho pensado: be cool, Luisa, vai ficar tudo bem... Quer dizer, tudo está bem. Esse é o semestre com as disciplinas mais legais que você já teve, você consegue olhar para trás e perceber o quanto evoluiu nesses dois anos de faculdade, você gosta do seu curso, você tem amigos de verdade, sua mãe vem te visitar nesse final de semana. Sua aula de Redação V, apelidada carinhosamente de “cinco” pelo professor, foi sobre crônica. O Antonio Prata foi citado durante a manhã inteira como maior representante dos cronistas contemporâneos. Seu trabalho final dessa disciplina consiste numa crítica sobre o livro De amor e de sombra da Isabel Allende e você ainda está participando da concepção do projeto gráfico a ser utilizado na revista-laboratório. No mais, podia completar sobre como estou finalmente aprendendo o que é telejornalismo depois que meus preconceitos caíram. Ou como teoria da comunicação continua sendo um desafio bom. Ou ainda que tenho caminhado para entender economia. Só que chega o momento que você se rende. Vem cá, melancolia, me dá um abraço. Vamos conversar...

7.5.11

Hey, Dustin Hoffman, are you trying to seduce me?

Tiro duas conclusões toda vez que visito a Saraiva do Iguatemi: sou pobre e burra. Ainda assim, continuo frequentando, não tem lugar mais confortável que uma livraria. É claro que gosto de conhecer livros novos, dar uma olhada naquelas edições estrangeiras, inclusive já percebi que as herdadas da Siciliano são as mais bonitas e interessantes. Mas o que mais gosto de fazer é ali dentro é buscar meus autores favoritos. A Isabel Allende está sempre no mesmo lugar, mas os volumes mudam. Hoje A Casa dos Espíritos estava em destaque como se fosse um lançamento, sendo que é o primeiro livro da autora. No lugar reservado da chilena, Zorro e uma coleção sobrenatural que nunca me interessou muito. García Marquez mudou de casa, mas as Putas Tristes estavam ali, perto de uma capa muito charmosinha de Cem anos de solidão. Não consigo lembrar se já tinha visto algum Prata na casa. Tirando aquele dia do lançamento de Os viúvos, quando ganhei minha dedicatória. Primeiro achei Meio intelectual, meio de esquerda. No susto, encontrei um do Prata pai: Diário de um magro. Aí sim pude conhecer coisas novas e fiquei bem interessada pelo livro 3.096, sobre a austríaca Natascha Kampusch que foi mantida em cativeiro por oito anos. Essa história sempre me abalou demais.

Magia das coisas

Quando quero muito muito uma obra, ela cria uma áurea em torno de si que só Walter Benjamin explica. Então eu fico automaticamente proibida de comprá-la pela internet ou chegar numa livraria poderosa e perguntar se ela está a venda ali. Por isso eu nunca comprei o dvd A primeira noite de um homem. Pode ser besteira, mas faz sentido. Sem contar o frisson positivo de ficar procurando a tal obra alucinadamente e ao não achá-la, pensar que não era o dia em vez de ficar decepcionada. Foi por isso que a Luiza Terpins que perguntou para mim se tinha A primeira noite de um homem na Livraria Cultura "Culturona" de São Paulo. O destino não me deixou trapacear, lá tinha acabado.


Mas a minha maior busca foi com o livro Malu de bicicleta. Eu não queria ler, eu QUERIA ler. Vocês não têm ideia da quantidade de livrarias que eu entrei e procurei o livro. Inclusive em Sampa. Nadinha. Fui obrigada a perguntar aos atendentes na maioria das vezes - disfarçando com "Quais livros do Rubens Paiva vocês têm?" -, mas era impossível. Sempre esgotado. Acabou sendo a primeira e única vez que comprei na Estante Virtual.

Seu lindo, posso te atropelar também?
Adivinhem qual livro achei hoje na Saraiva antes mesmo de encontrar os Prata? Fui atropelada pela Malu, pelo destino, sei lá. Ele estava ali. Tudo bem que o filme passou no cinema outro dia, mas nem entrou no circuito comercial de Floripa, tive que ir ao cinema pseudocult daqui (filme terrível, só vale pelo Marcelo Serrado). E, bem, se eu tinha achado a Malu, por que Mrs. Robinson se esconderia de mim? Corri pros dvds clássicos, nada. Drama/romance: também não. E aí eu achei Kramer vs Kramer. Filme antiguinho que não só tem o Dustin Hoffman e a Meryl Streep no elenco, mas eles são um casal! 17 reais. Um porém... Como eu ia sair dali sem ao menos saber se o Ben tava me olhando de soslaio, ali na esquina da estante?! Ou dentro de seu conversível vermelho, como fez quando E(ca)laine estava voltando para Berkeley?! Perguntei pro vendedor. Torci para que estivesse esgotado, queria manter a magia. Não estava. Não achei na estante, ia desistir, ele veio me ajudar, recorreu à gaveta de estoque. Lá estava ele. Meu dvd de A primeira noite de um homem. Levei os dois. Por essa eu não esperava no final de uma semana tão cansativa.

1.5.11

Creative commons: não se aplica

Minha cintura não é de domínio público. Poderia postar só essa frase, mas vou explicar.

Sou chata e reclamona. No meio de alguma festa, sempre vivo aquele momento parem de me apertar, preciso de espaço! parem de ficar passeando pela balada! você aí que vem de salto só pra pisar nos pés alheios, te odeio!. Mas quem pagou e está ali pra se divertir, facilmente releva. O que não dá pra aguentar são os caras que acham que vão ficar com você porque enlaçaram sua cintura. Do tipo: UAU, ele me abraçou, nem olhei na cara dele, mas vou pegar! No dia que isso funcionar para você e 1) não for no carnaval 2) a guria não estiver caindo de bêbada, me avisa que vou estudar o caso antropologicamente.

Não sei se estão ensinando esse método para os garotos na escola (vai que eles assistem a alguma aula secreta) ou se é simplesmente um cartaz mentiroso no banheiro masculino aconselhando que isso funciona. Só sei que esse contato físico é dispensável e que não é porque estou dançando e feliz que minha cintura é de domínio público.

29.4.11

Azão azinho

Só pra constar: nesse feriado, papai, irmã e uma amiga dela vieram à Floripa. A volta era na terça 6h45. Nenhum dos três acordou a tempo e PERDERAM O VOO. Vou parar de postar sobre meus voos perdidos, minha gente, porque isso não é uma novidade mais, é GENÉTICA.

28.4.11

US$20

Corre do estágio pra ler um texto antes da aula de 18h30. Biblioteca universitária. Barulho razoável, deu pra me concentrar. Chega uma guria de branco na mesa ao lado, só podia ser da área da saúde. Não para de falar. Perco minha concentração. Ganho sono. Cochilo. Vou para um sofá para tentar ler lá. Necas, dormi mais. Saio da biblioteca. Sento num banco mais ou menos tranquilo, passa gente na minha frente o tempo inteiro. Sentado do outro lado do caminho, noutro banco, um senhor que faz um barulho diferente na respiração de quando em quando. Ali perto, uma mesinha de pedra, daquelas com tabuleiro desenhado. A guria sentada nela arruma as coisas, vai embora. Corri pra lá, tão mais tranquilo! Começa a escurecer. Começo a pensar que o chão dali é grama. Todos sabemos como a grama da UFSC não é confiável. O pé começa a coçar. Provavelmente de paranoia, ainda não tinha sido mordida por nenhum bicho. Sou obrigada a ler com as pernas para cima, apoiadas no banquinho ao lado. Completamente desconfortável, pernas formigando periodicamente e, ainda assim, concentrada. Fábula das três raças, racismo no Brasil e nos Estados Unidos. É, estou gostando daquela disciplina de Antropologia Social. Terminei o texto a tempo, só lamentei não ter nem 20 dólares e nem uma árvore mega confortável para dar uma de Rory e conseguir um lugar bom de estudo. Até porque, imagina que alvo fácil para formigas e borrachudos eu seria na grama, embaixo de vários galhos?!

25.4.11

Ilha do amor (trágico)

Qual o primeiro lugar que você olha numa mulher? Olhos são uma opção. Te dizem se a pessoa é confiante, triste, orgulhosa... Difícil é disfarçar quando mostram fraqueza. Pois bem, a primeira impressão, os olhos de São Luís - talvez possamos descrever assim - é o ex-aeroporto internacional. Tava precisado de uma reforma para aumentarem a sala de embarque e o número de portões. Decidiram colocar um sistema de refrigeração. O teto não aguentou o peso e começou a desabar, o prédio foi condenado. Foram montadas estruturas improvisadas com tendas e banheiros químicos. A área de embarque pelo menos tem um chão de madeira, cadeiras de aeroporto e tudo mais. Desembarquei na chuva e, com o prédio condenado, aqueles corredores não puderam ser usados. Descemos pra um ônibus e só havia um comissário e um guarda-chuva. Uma vez embarquei na chuva aqui em Floripa - aeroporto sem aqueles corredores - e chovia. Havia toda uma logística de comissários de chão abrindo e entregando/recebendo e fechando os guarda-chuvas para os passageiros. Pegamos chuva, não havia orientação para aqueles que continuariam voando (uma senhora desceu para pegar a mala, sendo que continuaria a viagem ao Rio de Janeiro e não havia ninguém pra ajudá-la), tínhamos contato direto com os homens que descarregavam as malas e, na falta de uma esteira, éramos um amontoados de ex-sardinhas tentando achar cada um sua bagagem.

Pernas mancas e machucadas. Complicado é encarar o trânsito na capital maranhense. Achar uma avenida relativamente vazia é impossível em qualquer parte do dia, o horário de pico aumentou consideravelmente e o número de buracos nas ruas não para de aumentar. Como um cearense que eu conheço gosta de falar, ele mora lá há mais de 20 anos e nunca viu nenhuma avenida ser construída. Enquanto isso, a cidade continua crescendo, junto com a quantidade de carros. Melhor nem comentar o sistema de transporte público, né? Sem contar a aventura que é dirigir pela cidade durante as chuvas de verão. Boca de lobo é artigo de luxo nas vias e a maioria delas alaga.

Maquiagem borrada 24/7. São Luís é uma cidade linda. Tem o centro histórico com casarões portugueses (tombados pela UNESCO e, ainda assim, caindo aos pedaços, virando estacionamento no centrão), ladeiras, escadarias e becos, todos eles fedendo a xixi. Pontos turísticos, como a fonte do ribeirão, abandonados, descoloridos, vandalizados. Praias com o mar poluído e a areia suja.

E uma mulher tão descuidada pode ser perigosa ainda? Pode. Lá não tenho nem metade da segurança que tenho aqui, de voltar andando às 22h ou de madrugada. Um exemplo cai muito bem. Minha amiga, moradora do bairro da minha ex-escola, grudada perto da minha casa, desceu do ônibus às 19h. Teve uma arma apontada pra ela na rua em que ela mora, ainda perto da avenida.

Esse não é um texto para xingar o atual prefeito, governo, nem o Sarney em geral. É pra mostrar a minha tristeza. Como pode uma cidade que eu gosto tanto, que dá tanto orgulho pros ludovicenses, estar tão ruim assim? Ano que vem completamos 400 anos e quero ver em que estádio o prometido amistoso Brasil x França vai acontecer, já que os nossos estão caindo. Também quero saber o que o enredo da Beija-flor vai cantar no carnaval 2012. Só temos notícias ruins.

18.4.11

Queridinhos

Só depois de gravar esse vídeo com os livros que eu tenho aqui em Floripa que percebi como faz falta ter alguns livros especiais que li de outras pessoas e nunca comprei meu exemplar. Queria ter falado de O amor nos tempos do cólera, A sangue frio, O vendedor de histórias e alguns outros, mas não os tenho. Acabei falando mais falando desses poucos livros que me fazem companhia no meu quarto pobrinho do que todos aqueles lá de São Luís. Tenham paciência e relevem minhas gaguejadas!

17.4.11

O voo me perdeu

Quando avisei ao pessoal que iria fazer a visita-relâmpago aos meus pais, recebi tanto "Não vai perder o voo" como conselho que o meu voo acabou me perdendo. Já vivi muita aventura em aeroporto, mas essa foi nova. Meu itinerário era Floripa - Curitiba - Brasília - São Luís. Com o aeroporto de Curitiba fechado, me colocaram num voo pra Guarulhos e me garantiram que o voo Guarulhos-Brasília chegaria a tempo do trecho para o Maranhão. Até porque deixei bem claro que se não chegasse ainda no sábado, 9, desistiria da viagem e ia pedir o dinheiro de volta. Na correria, aceitei o cartão de embarque, comi e voei pra São Paulo.

Tudo correu bem até o pouso em Brasília. Já tava comemorando internamente que só faltava mais um trecho, algumas cochiladas e estaria desembarcando em São Luís. Mas aí o avião tocou o solo, a chefe de cabine foi dar um dos últimos comunicados e falou a hora local. 12h50. E, finalmente, caiu a ficha: "Não era esse o horário que eu SAIRIA de Brasília?". Fui checar o cartão de embarque. Meu voo chegava no aeroporto JK às 12h59, o outro partia às 12h50. Maravilha, mas pensei com meus botões que meu nome estaria entre os passageiros e que chamariam a senhora Luisa Pinheiro nos alto-falantes em eterno looping até que eu encontrasse algum comissário de chão. Só que não.

Desembarque remoto. O portão dava para um daqueles corredores compridos, nenhum comissário, Luisa correndo, embarque fechado (óbvio), ninguém me esperando, um comissário da Gol que não poderia me ajudar e que queria me levar para a administração da Companhia no térreo, área de check-in. Eu não entendia porque ele não mandava o avião para o pátio e me colocava lá dentro. Porque, afinal, meu cartão de embarque dizia que eu pegaria aquele voo.

Chegamos na administração e ainda tive que esperar uns bons quinze minutos até que alguém apareceu para "resolver" o meu problema. Claramente até essa pessoa chegar o avião já tinha decolado, se duvidar já tinha saído de Goiás (não). Muito choro depois, me avisam que meu trecho Brasília-São Luís havia sido trocado do voo das 12h50 para o da noite, às 21h45 sem meu conhecimento e muito menos a minha permissão. A mulher na sua maior inocência falando que ia tentar um voo mais cedo, que ia procurar até na TAM. Amiga, olha pra minha cara, olha quantas vezes eu já fiz essa viagem, o voo mais cedo só sai no final da noite. E só me faz chegar em casa no outro dia. Ou seja, depois que o aniversário do meu pai já teria passado.

Tinha duas opções: voltar para Floripa e remarcar a viagem para outra data ou continuar indo até São Luís. Eu queria ter mais uma: explodir a cabeça da atendente que fez o meu check-in em Floripa e de toda a Gol que, percebendo que meu problema era erro deles, não me colocaram naquele avião que me levaria pra casa até 15h30. Escolhi continuar a viagem e remarquei a volta de segunda pra terça. Não era meia-diária num hotel três estrelas e duas refeições que iriam acabar com todo o desgaste psicológico que eu consegui com esse incidente e não acabaram mesmo. Apesar de ter papai ter adorado a visita (e chorado muito quando minha irmã finalmente contou para ele, na noitinha de sábado), sem dúvidas que esse início acabou com minha animação, a visita não foi nem um pouco como eu esperava, me decepcionei e acabei voltando pra cá bem triste.

Escrevendo sobre o assunto, me arrependo ainda mais de não ter feito denúncia no Procon. Olha, depois dessa, eu merecia um ano voando de graça pela Gol. Se bem que não me atrevo a entrar num avião deles tão cedo. Ah se o maior problema dessa companhia fossem as barrinhas de cereal e os biscoitinhos cream-cracker...

Fica o conselho para que ninguém passe por uma situação parecida com a minha: não dá pra confiar em atendentes, chequemos nós mesmos se nossas conexões são possíveis. Porque, né, this is the brazilian way of flying. Nunca esqueço do comissário em Miami reclamando dos cartões de embarque daqui e dizendo "This is the american way of flying" quando entregou o cartão americano, em papel durinho.