"Você chega no não-lugar
com a (carteira de) identidade
nas mãos para provar sua inocência"
No conceito antropológico, lugar pressupõe uma relação com o espaço ocupado, o lugar tem uma história, é singular. O não-lugar é ocupado por pessoas em trânsito, caracterizando uma individualidade solitária, a passagem, o provisório e o efêmero. Esse aeroporto poderia estar em qualquer lugar do mundo. Mesmo olhando, através do vidro, para a cidade, quem sabe eu poderia estar em Florianópolis ou Kingston, na Jamaica. O mesmo vale para supermercados, cinemas e franquias do Mc Donald’s. O não-lugar não tem sentido nenhum para mim, nem para o homem com o paletó na mão que está indo para a lanchonete e nem para a mulher que estava sentada nesse mesmo lugar antes de mim. E o mais engraçado disso é esse conceito aplicado ao turismo. Hoje as pessoas viajam muito mais que antes e buscam refúgio em marcas e fast-foods conhecidos. Em lugares novos, a gente se encontra no Burger King (ufa, reconheci alguma coisa!), na latinha de coca-cola e nos shoppings. Até quando vamos atrás de uma Starbucks da vida é o reconhecimento das nossas experiências mediadas das séries e filmes americanos.
Já escrevi vários textos marcados como “voos atrasados”, sempre ficava intrigada observando aeroportos, pessoas nos aviões e até os próprios comissários. Depois que mudei de estado, essa vida passageira virou parte de mim, ainda mais com todos os vôos que realmente já perdi, Foi numa aula aleatória de Antropologia Social que esse conceito pulou na frente dos meus óculos para eu poder enxergar. Depois que decidimos que nossa primeira pesquisa de campo seria na rodoviária Rita Maria, a professora argentina falou no seu portunhol de sempre sobre o conceito de Marc Augé. O não-lugar não foi tão efêmero assim pra mim.
p.s.: Tanto que tentei finalmente criar outro blog com esse nome e, bem, o domínio já estava ocupado. Usando não-lugar ou qualquer uma das variações. E agora, Augé?
6 comentários:
Me lembrei daquele filme com Tom Hanks. Esqueci o nome, mas enfim.
O aeroporto é tipo um limbo, né? Você não está em canto nenhum, mas está nele.
Enfim.
Ei Lu! Eu considero essas conexões de aeroporto como um limbo mesmo, um não-lugar. E fico sentada, analisando, também.. Aliás, também sou fã de analisar aeroportos e pessoas em aeroportos..
Beijos!
(hahaha), Agora que fui ler o comentário da Amandinha e vi que ela também considera um limbo!
Eu também me lembrei do filme com o Tom Hanks - O Terminal. Imagine viver em um aeroporto por quase um ano? #tenso.
Mas penso que essa etapa é "transitória", por mais que isso seja eufemismo ou trocadilho infame. O jeito é tenatar passar sem perceber, sentar, ler um livro, orientar-se. A última parte é mais difícil. Mas nada custa tentar.
Todo mundo pirando no Tom Hanks ;)
Aeroportos são fantásticos, e eu amo ficar horas esperando. Passo horas diárias também em rodoviárias (rimou), e fico imaginando a história de cada um. Penso se eles pensam sobre a minha, também.
eu gosto muito dessa coisa de "não lugar". de estar em um nada. e aeroportos realmente passam essa sensação, sem dúvidas.
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