6.11.10

Like a riot

Ana Cristina tem 20 anos. Sobrancelha bem feita e unhas cor-de-rosa. Grávida de quatro meses de um menino e presa há quase o mesmo tempo. Tráfico de drogas. O marido continua com ela. Não se falam pelo telefone, mas toda quinta ele vai ao Presídio Feminino de Florianópolis visitá-la. Ai dele se faltar uma visita. Ele troca o turno da manhã pelo da tarde de 15 em 15 dias quando o casal têm direito à visita íntima. Ana Cristina prefere não pensar no que o marido faz no mundo. Ele não vai à praia, fica em casa vendo novela. No fundo, sabe que ele não é assim comportado, mas ignora.

20 anos. Mais nova que algumas amigas minhas, que a minha própria irmã. E tá lá, grávida e presa, falando com maturidade sobre relacionamentos. E tem gente aqui fora, um ano mais nova, sem nunca ter engravidado (ainda bem) e que não sabe o que fazer com um relacionamento de 1 ano e 2 meses.

Visitei o presídio feminino para uma reportagem do jornal-laboratório Quatro, projeto final da disciplina de Redação IV. O tema do jornal é "sexo" (odiei a "palavra-chave", porque a maioria das pautas são chatas e clichês) e minha matéria ficou sobre mães e grávidas no presídio. Depois de uma semana negociando pelo telefone com a chefe de segurança, ofícios e tudo mais, eu e a fotógrafa entramos lá e entrevistamos as 2 mães e três grávidas. Foram umas duas horas de conversa, elas perderam a timidez (eu também) e no final já estavam posando para as fotos. Foda foi que não me deixaram entrar com gravador (não pergunte, já que conseguimos entrar com câmera) e vai ser difícil fazer essa matéria de uns 6 mil caracteres só com minhas anotações e a memória "ajudando".

Para ouvir: Lisztomania - Phoenix.

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