26.6.11

Lá em casa é melhor

"Quantas maranhenses com menos de 20 anos você conhece morando em Floripa com dois amigos gays (que não são um casal) e estudando Jornalismo?" Essa descrição é muito boa, mas não fui eu que inventei, foi a Kauane. No começo do semestre, passei uma semana estagiando numa projeto crossmídia de revista e programa de TV voltados para quarentonas ricas. Éramos uma equipe formada apenas por mulheres, tirando o diagramador frila, e não tinha nenhum espelho na redação. O trabalho era tão legal por lá que eu não durei nem duas semanas, a minha amiga que tinha me recomendado também resolveu sair na mesma época e a Kauane, do setor comercial, estava cogitando outras propostas de emprego.

No dia em que avisei minhas chefas que tinha arranjado um estágio que pagava melhor para trabalhar menos, a Kauane também tinha sondado a chefa mais tranquila se poderia manter aquele emprego junto com outro. Recebeu um não. Nesse dia, almoçamos juntas. Ela tinha uns vinte e seis anos, morou no interior do Ceará até os 14, veio morar com uma tia em Florianópolis e com 16 casou e teve filho. Gostou da minha história de me mudar aos 17 e bem aleatória só para estudar Jornalismo. Foi a única oportunidade que tive de conversar de verdade com Kauane, depois nunca mais a vi. Mesmo assim, me identifiquei com ela. Da mesma maneira que eu me identifico com a paraibana que tem uma tapiocaria aqui perto de casa e "importa" farinha lá do estado dela para fabricar a melhor tapioca (ou o beijú, como nós maranhenses gostamos de falar). Nem a carne seca que ela usa é daqui do sul.

Não é nenhuma novidade o meu regionalismo forte. E é por isso que eu gosto de conhecer esse tipo de pessoa, com sotaques parecidos e diferentes do meu, com histórias de vida que talvez nem tenham relação com a minha, mas que compartilham dessa identidade comigo. Isso funciona como uma brecha na pós-modernidade, quando tudo que é sólido desmancha no ar, das identidades fragmentadas. Sou mulher maluca pra me assumir feminista, universitária, projeto de jornalista e filha da classe média sofredora, mas me reconheço mesmo como nordestina. Desculpa Stuart Hall, você que não se considera nem jamaicano nem inglês, mas eu não sou cidadã do mundo.

Deve ser por isso que eu fico tão triste quando conheço sergipanos, cearenses ou até mesmo maranhenses que ignoram nossa terra cheia de palmeiras e sabiás. Que seja ao menos como uma maranhense que eu conheço, se mude para Floripa seguindo os passos dos dois irmãos mais velhos, que seja, mas disfarce na hora de dizer por que mudou de cidade e garanta: a universidade, o clima, as pessoas, tudo lá em casa é melhor.

Edição: obrigada ao James, que identificou um erro de continuidade no meu texto! Essa descrição não fui eu que inventei e tinha esquecido de dizer quem tinha falado essa frase. E foi a tal Kauane.
No mais, eu não estou falando que o Maranhão é o melhor lugar do mundo, mas que não é porque eu me mudei pra estudar numa universidade mais estruturada que São Luís é a pior cidade do mundo e não tem nada de bom. Deu pra entender?

12 comentários:

Jota disse...

Você falou da descrição mas não disse como ela surgiu \õ

És de que cidade? Por que foi estudar jornalismo fora? Perdão, eu sou curioso mesmo.

Te achei no faceblog. Beeeijos ;**

Tay disse...

Também tenho uma amiga estudando aí em Floripa. Ela faz mestrado em Letras no UFSC, e vive falando bem da Universidade...tanto que tenho vontade de ir também. Mas agora que estou no 2º período da graduação em Letras.

Maria Eugênia Caminha disse...

Gostei do texto, que só reforça a minha opinião: essa identificação com o Nordeste depende horrores da vida que você leva. Nasci em Teresina mas me mudei para Brasília aos 9 meses, e meus pais + 2 irmãs são cearenses. Gosto muito do Nordeste e tal, mas para mim significa ótimas e relaxantes férias - e só. Nunca conseguiria me imaginar morando lá, ainda mais depois de morar em outro país e tal.

Reconheço as belezas e as particularidades, mas acho engraçado pensar na vida... Será que eu seria 100% louca/não gostaria de trocar o Nordeste por nada caso não tivesse saído de lá tão pequenininha!? Por enquanto, sei que lá rolam as praias mais bonitas que já vi (: haha Bjim!

Anônimo disse...

Meu problema com o Nordeste é o estado onde moro. Tão pequeno, tão metido a grande coisa e tão sem oportunidades para o que eu procuro como jornalista.

Mas gosto da minha cultura e me mudaria de mala e cuia para o Rio Grande do Norte, se assim fosse possível.

Kamilla Barcelos disse...

Eu digo que eu tenho mais orgulho de ser de Minas do que ser brasileira. Acho que é o sangue inconfidente gritando. Também não entendo essas pessoas que não valorizam o lugar de que veio. Principalmente a gente que mudou, sente uma vontade maior de voltar para a nossa terra. Quase tudo o que vc escreveu eu tb sinto em relação a MG.

Luiza disse...

Acho muito legal esse sentimento que as pessoas de algumas regiões tem. As pessoas de SP são tão X, tão fragmentadas, que a única coisa em comum entre elas é a falta de sotaque hahahah! :P

p.s.- andou lendo "As culturas nacionais como comunidades imaginadas"? haha

Luma Rosa disse...

Muito feio renegar a origem e titubear dizendo-se do mundo por ser produtor/consumidor? - oras, Stuart Hall por ser uma identidade cultural pós-modernidade deveria saber que, do mundo é quem se dedica à trabalhar pela humanidade, como faz Tenzin Gyatso ou Bahá’u’lláh. Mas tá certo, como sociólogo aposentado na Inglaterra, terra que muito contribuiu com seus pensamentos, não quis desagradar - Foi "político"! Mas não precisamos disso! Acabei de voltar de Minas Gerais, terrinha querida e aproveitei enquanto lá estive e, FIZ A FEIRA!! Vem cá comer queijo minas com goiabada cascão!! :=))) Beijus,

Gab disse...

Deu pra entender sim. Eu não suporto gente que diz que odeia de onde vem só porque está num lugar melhor.
Eu já morei em Floripa, sou gaúcha e sou dessas que assumo da onde vim, porque amo onde moro. (:
Beijo.

Cris Cavaletti disse...

Acho justo.
Acho que é coisa de maranhense porque minha mãe é do mesmo jeito e vive em Brasília desde os 9 anos de idade.

Irena Freitas disse...

Luh, primeiro: achei esse teu texto muito bem escrito. De verdade. Acho que você está deixando de escrever como adolescente blogueira, e escrevendo como jornalista de verdade.
Agora sobre o texto: eu não curto muito regionalismo, Luh. Acho seu amor pelo Nordeste uma fofura, e gosto quando você escreve sobre isso. Mas não gosto quando o pessoal de Manaus começa com essa história.
Acho que quando manauaras resolvem ser regionalistas eles só reforçam um esteriótipo chato, de que nós somos uns excluídos índios. Nos blogs de Manaus só o que a gente vê é gíria local, aí acaba só virando um blog local, entende? Fecha muito a comunicação.
Mas enfim, essa é outra discussão :P

Carlos Massari disse...

acho sensacional a identificação regional. é dificil me identificar como jundiaiense, já que jundiaí é um nada, mas como paulista, com certeza. apesar da quantidade bizarra de gente idiota, eu amo isso aqui.

Anônimo disse...

Quem se identificou contigo agora fui eu. Sempre tive vontade de ser "cidadã do mundo", o mais cosmopolita possível. Mas nasci (e moro) na Bahia. E, apesar da minha vontade de conhecer o mundo todo, prezo muito do que existe aqui.
Beijão.