10.1.11

Éguas, doido

O calor quando saio do avião. O abraço da família depois que encontro minha mala. O primeiro gole de jesus vencendo uma seca de quatro meses desse refrigerante cor-de-rosa. Só me sinto verdadeiramente em São Luís do Maranhão quando as pessoas começam a falar. Aqui temos o português mais puro do Brasil!, é o que a gente diz. Num temos sutaque, os nordestinos são os cearenses e os pernambucanos. Estamos em algum lugar no meio-norte e, como o Piauí não faz muita diferença, nossa localização é meio indefinida, tentamos lançar foguetes ucranianos de Alcântara (cidade que foi inteira reformada para receber a visita de D. Pedro I e ele nunca apareceu) enquanto expulsamos a população quilombola do litoral.

Nos achamos especiais porque moramos na única capital fundada por franceses, mas nossos azulejos famosos são portugueses, nossas personalidades mais destacadas quase todas se chamam José de Ribamar e nunca conheci um ludovicense qualquer descendente dos franceses pingados que continuaram aqui depois que os portugueses retomaram o domínio da região. Sabe como é, antes de Joaquim Nabuco ficar feliz com o fim da escravidão, proibiram o tráfico, faltou escravo em Pernambuco e no sudeste, os nossos foram todos vendidos. Fazer o que aqui? Pescar caranguejo? Jesus, o ateu, ainda nem tinha inventado seu guaraná e a indústria algodoeira só teve demanda quando os Estados Unidos bobearam na guerra de independência. Nossos escravos foram embora e levaram junto nosso sotaque. Porque o Maranhão pode ter os piores índices de educação, saúde, saneamento (apesar da concorrência piauiense e alagoana), mas sotaque? Sutaque num tem não, rapá. 

Os mais jovens são quase caricatos. Para eles, todo mundo é doido, rapá ou piqueno. "Dooooido, teve uma briga na formatura de odonto". é o que determina o fim de uma frase ou dá ênfase quando utilizado no início. "Ê, , tô com uma fome". Ou melhor: "Ê, , tô brocaaaado". Porque além de todo mundo ser malandro e se demorar nas vogais, temos umas palavras bem bizarras. Brocado para quem está com muita fome. Aziados são os entediados, o típico domingo maranhense. Marocar para quem desabilitava a opção do orkut de ver quem visitava seu perfil só para marocar todo mundo e neguinho nem ficar sabendo. Arrilia para os agoniados e por aí vai. Nossas festas são raladas, muy difícil achar algum lugar que não toque pagode, forró, tecnobrega e reggae ou tudo isso junto. Os gays não são apenas baitolas e viados, mas qualiras também. E sabe a briga da formatura de odonto? Não teve murro, teve bogue

E como bons nordestinos que somos, apesar de não termos aquele T e D pra lá de Recife, soltamos um "Ééééguas, doido" quando ficamos surpresos. Só pisar nessa terra que já saio falando "Ê, pô, quero tomar um sorvete de tapioca" e "Éguas, doido, esse caranguejo tá muito bom". Sim, mas me controlo pra não soltar pelo menos nenhuma égua quando volto pra Floripa, seria colocada numa gaiola de vez. Olha lá a maranhense! Com sotaque! "Rapá, num tenho, viu?"

8 comentários:

Anônimo disse...

Eeeeeeita! Esse "Ê, pô!" tem pelas bandas daqui também! HAHAHAHA "Éguas" não tem não, a gente tirava onda que só quando apareceu um menino na escola que falava.

Ai, Luh, gostei demais desse post. Um monte de palavra nova que eu nunca imaginei que existisse. "Qualira"? HAHAHAHAHAHAHA

Boas férias pra tu, enjoy Slz!

Luiza disse...

Lógico que o pessoal de São Luís tem sotaque! Os únicos brasileiros que não têm são os paulistanos! :P hahaha
Até consigo imaginar alguém falando "ê, pô", mas "ééééguas, doido" eu não consigo de jeito nenhum! haha!

Alice Voll disse...

Tem mais alguém no Brasil que fala esse negócio de égua, morro de rir!
Agora esse negócio de não ter sotaque é mó balela, pq eu reconheço um maranhense nos primeiros 2 minutos, principalmente com palavras que tem nh, a rapidez com que falam é tipo surreal, adoro o falar maranhense, adoro!
O 'marocar' desde que falou pela 1a vez nunca esqueci, achei muito engraçado e às vezes até uso!

Deyse Batista disse...

Ah, Luisa, acho que eu nem preciso dizer o quanto concordo com o seu post, que adorei e me diverti com cada palavra, sou extremamente suspeita pra isso. E além do mais, bateu aquele orgulho de ser maranhense, com ou sem sotaque e com o ''éguas, doido'' que eu quase não falo. Adorei :)

Beijos.

Camila disse...

Luisa, morri de rir. Lembrei de um professor de matemática paraense que tive e ele batia no quadro direto enquanto GRITAVA "ÉGUA, PAI!" Era hilário...
Marocar é ótimo, vou adotar. E eu sou uma aziada, todo dia!

Beijos =)

Ana Luísa disse...

Ah, é sempre bom voltar pra terra! E nunca tinha ouvido falar em marocar! E toda vez que você fala do guaraná jesus me dá vontade de experimentar, hahaa.
Beijos Lu

Joana disse...

Aqui no Rio também é um tal de "pô pra lá, pô pra cá..." e todo "bagulho"aqui é "doido".

Queria tantooo conhecer São Luís. Deve ser lindo, lindo...

paulinha disse...

HUASHUSAUHASUHSHAUHUAS melhor post ever :)

nós nao temos sutaque, mermã! HAHAH