15.7.11

Aquele-que-não-deve-ser-nomeado

Nunca fui de demonstrar meus sentimentos. Nem lembro quando meus pais me separaram, mas não chorei quando passei no vestibular, nem quando peguei o voo para Florianópolis sem a passagem de volta... Fria, fechada, tímida, orgulhosa, chame como quiser. Demorou muito para cair a ficha de que estou separada de muita gente importante da minha vida, demorei muito para chorar lembrando de casa. E foi por isso que eu achei que faria parte das pessoas que não chorariam assistindo a última parte do último filme de Harry Potter. Claramente não fiz.

Dez anos atrás, em dezembro. Aeroporto Marechal Cunha Machado. Talvez nem fosse internacional ainda. Lembro que a livraria era num lugar diferente do que é hoje e eu passei lá antes de fazer a primeira viagem sem meus pais. Eu e minha irmã voaríamos até Salvador sob os cuidados das aeromoças - que naquela época ainda não eram chamadas de comissárias de bordo - na primeira poltrona do avião. Escolhi um livro. Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban. Nunca fui boa de identificar se a obra fazia parte de uma série. Terminei de ler antes do Natal e eu e minha irmã ganhamos de presente os dois primeiros volumes da coleção. No avião de volta, outras meninas da nossa idade também liam Harry Potter. Era o início da febre.

Foi a partir desse momento que passei a esperar ansiosamente por cada livro lançado e sabia que fazia parte de algo maior, que aquela espera que tanto me deixava ansiosa, curiosa, desesperada para saber até a última palavra de um volume, só a minha geração ia viver. Não vão saber como foi o gostinho de encomendar livros que acabavam de sair do forninho elétrico da J. K. Rowling, a primeira personalidade feminina que eu admirei na vida. Vieram os filmes - ruins -, o jogo para computador, muitas camisetas e Quadribol através dos séculos. Fui crescendo e os livros acabaram. Sete só? Podia fazer mais... Não? Como que para suprir nossa sede pottermaníaca, os filmes ficaram cada vez melhores até chegar a essa última parte, que mostra um enquadramento desnecessário só para a gente dar uma olhadinha na Madame Pomfrey depois de tanto tempo.

Se no filme passado eu já me mantive firme com a morte do Dobby, mordi forte os lábios quando o Snape foi morto hoje. A menina do meu lado já estava soluçando, soluçando de tremer mesmo. E eu pensando que a situação era ridícula. Não deu nem dois minutos e desandei de chorar com as imagens das lembranças do Severo. Assim, baixinho, achei que eu podia controlar, que meu amigo do meu outro lado nem ia perceber, e aí não deu, eram muitas lágrimas, tinha que enxugá-las, assoar o nariz. Chorei mesmo. E me pergunto se não foi o único filme que chorei de verdade nessa vida.

Sem querer fazer discurso de odeio-pessoas-que-gritam/aplaudem-no-cinema, mas quando o filme começou sem a música tema da série, já imaginava que os editores teriam deixado pro final. Vale a pena morrer de bater palma e não ouvir aquela melodia? Mesmo?


A nossa geração tem muito o que agradecer à Rowling por toda essa série, cheia de falhas no texto dos primeiros livros ou alguns detalhes um tanto ridículos, e aos nossos pais que tanto nos aguentaram pedindo mil e um produtos potterianos. Não é fácil popularizar tantas palavras aleatórias como trouxas, quadribol, wingardium leviosa ou horcruxes. Agora fica o vazio. Até arranjar saco para reler todos aqueles livros que já nem tem o título na capa de tão usados e fazer uma maratona com os filmes. Tenho muito orgulho de dizer que minha vontade de leitura começou com Harry Potter. E que, desde que me entendo por gente, Harry, Ron e Hermione eram como aqueles amigos distantes que não precisavam estar ali o tempo todo, mas quando vinham...

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4 comentários:

Ana Luísa disse...

Ai Lu, nem me fale. Eu penso exatamente como você: Muita gente pode gostar/amar Harry Potter, mas só a nossa geração viveu essa loucura, essa paixão. Meus filhos vão ler Harry Potter, mas talvez nunca entendam o que foi VIVER Harry Potter. ;)

Malú disse...

Ah espera pelos livros acabavam comigo, terminava um bem rapidinho e quando a última pagina chegava, vinha a lembraça que livro novo, só no ano seguinte...
Mas esse pensamento acabou quando a útima página, do último livro chegou, e acabou rapido demais.

Seu texto está maravilhoso, exatamente como me sinto!

http://organizadabagunca.blogspot.com/

beijinhos @maluu_maluu

Anna Vitória disse...

Também comecei a chorar na parte das lembranças do Snape e, sinceramente, acho que é bem difícil pra qualquer pessoa que tenha uma história com a série não chorar, nem que seja um bocadinho.
E a vontade de reler os livros, tipo agora?
beijos

Lusinha disse...

Seu post e mais de algumas outras pessoas fizeram os olhos encher de lágrimas só de pensar na sensação de ver o filme. Porque como você e muitos outros blogueiros que falaram sobre HP, também acompanhei a saga e quem não viveu a espera do próximo lançamento não conseguirá mensurar a emoção e ansiedade que vivemos.
Foram tantos posts melancólicos que contrariando a ideia de que não gosto de assistir filmes no cinema assim que são lançados, porque não gosto de cinema cheio, fui no cinema no domingo, logo após a sexta do lançamento... E também me emocionei, chorei e amei o filme!
Bjitos!