14.1.10

O torneirinha

José Carlos, o Zeca, tem entre 50 e 55 anos. É um solteiro convicto que mora sozinho desde 1988 quando saiu da casa dos pais. Se formou em Administração pela UEMA, mas hoje é aposentado e trabalha meio período na empresa do afilhado. Só pra ter uma rotina. Faz o tipo de coroa que todo dia põe o óculos escuro, dirige até a Litorânea e caminha admirando o mar acinzentado de São Luís e os navios estacionados que esperam a vez de atracar no porto.

Mora num condomínio com dois prédios e fez questão de não morar no mesmo bloco que o síndico. O apartamento é no sexto andar e tem a melhor vista para os terrenos baldios ao lado e para o mar lá longe. Podia ser em qualquer outro andar, menos no quinto. Porque o quinto é de uma família globalizada e de um cachorro preguiçoso. E no primeiro, porque o elevador chegaria ao térreo muito rápido.

O imóvel de três quartos é muito espaçoso para quem mora sozinho, mas Zeca tem a companhia das TVs de plasma que espalhou estrategicamente pelo apartamento. Num quarto, ele dorme e guarda seus objetos mais pessoais. Noutro, ele tem um acervo de livros, revistas, textos e depoimentos sobre as copas do mundo, mas só até as de 1998. Desde moleque tem essa fixação pelos detalhes mais insignificantes do campeonato e não quis continuar o estudo com a copa de 2002 porque nunca foi fã do número 2. E o terceiro quarto era apenas para os amores. Zeca tinha o dom de convencer coroas enxutas que também caminhavam na praia a dormirem com ele e usava o cômodo especialmente para isso.

Caminhar pela manhã bem cedo. Faxinar a casa inteira. Trabalho no negócio do afilhado à tarde. Mergulho no futebol mundial pela noite. Era essa a rotina do aposentado. Vez ou outra, um encontro casual. Outra ou vez, saía pra conversar com o amigo que trabalhava vendendo sorvete no centro histórico. Mas era a cada duas semanas, na quarta-feira, que Zeca fazia o que tanto lhe deixava feliz. Não que fosse um hábito marcado, ele apenas sentia vontade de fazer aquilo a cada quinzena. Já não disse que ele morava no sexto andar? Pois tinha muito tempo para ficar no elevador até chegar ao térreo. E ele sabia - sem imaginar como sabia - quando desceria sem que o elevador parasse em andar algum. Os pelos do braço dele ficavam arrepiados e ele instantaneamente sabia o que tinha que fazer. Abria o zíper da calça ou do short e fazia xixi ali mesmo, no chão. Saía de lá realizado, mas conseguia esconder a felicidade com uma cara de quem tomou leite vencido caso encontrasse no térreo alguém que usaria o elevador. E ia à praia. Ou ao trabalho. Ou fazer uma visita, quem sabe.

*Baseado na sorte que eu tive de encontrar xixi no chão elevador duas vezes. Numa terceira vez, senti só o cheiro. E, acreditem, era muito xixi pra ser de um cachorro.


p.s.: Obrigada pelo apoio no post passado. Tô tomando uns remédios, mas continuo tossindo bastante. Ao menos estou comendo melhor. Amanhã devo marcar um otorrino pra ver o que ele(a) me diz!

14 comentários:

Vanessa disse...

Ahhhh, não! Que porcaria! Fazer xixi no elevador! Eu ficaria morrendo de raiva se morasse nesse prédio! Cachorro eu até perdoaria, mas não perdoaria o dono hahaha Será que é de adulto mesmo (ainda bem que não vi a quantidade hehe).
Ah, espero que você fique boa logo!

(www.caixinhadeopinioes.zip.net)

Irena Freitas disse...

Acho que você tem que encarnar a jornalista investigava que existe dentro de todos nós e descobrir quem anda premiando seu elevador.
Mas acho que eu não perdoava nem se fosse cachorro.

Irena Freitas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Giovanna disse...

Bem assim, quando morava no outro prédio eu também encontrei uma vez. É a pior coisa do mundo, não sei como alguém tem coragem, mas enfim. Que bom que você está melhor :D

Ana Luísa disse...

Meu Deus Lu, que coisa mais sem noção!
Xixi no elevador
=P
Adorei a história, hahaha
Beijoss

Anônimo disse...

Acredita que assim que entrei em seu blog começou a tocar uma música da She & Him no meu player?

Mas vamos ao que interessa, isto é, o post: mas que puxa! Xixi no elevador? Eu nunca ouvi (muito menos imaginei) isso. Tudo bem que elevador é famoso pelos momentos em que sentimos cheiros duvidosos, mas... xixi?

P.S.: obrigadão pelo comentário no meu blog! Fiquei muito feliz.

Beijo.

Kamilla Barcelos disse...

Eu estava gostando muito das características do Zeca até chegar na parte do xixi.
A história dele foi muito boa, e acho que surpreendeu a todos com o final.
Ninguém merece pessoas agindo assim. Muito vandalismo para o meu gosto!

Vivian disse...

Nossa você escreve maravilhosamente bem, parecia até que eu estava lendo um livro, rss. Parabéns!
Mas quanto à essa pessoa do xixi... eu realmente não sei o que leva uma pessoa se quer a cogitar fazer isso, mas talvez fazer xixi na porta da casa dele seja a solução rss. Brincadeira. Não possuem câmera no elevador?
bjs
Vou "linkar" você, assim posso voltar sempre

Verônica disse...

xixi no elevador?? eca!!

Gabriela P. disse...

Aaaah que desespero!
Xixi no elevador?!
OMG, OMG, OMG!
:S

Gabriela P. disse...

Aaaah que desespero!
Xixi no elevador?!
OMG, OMG, OMG!
:S

Carolina disse...

ADOREI o fato de você ter conseguido criar essa história a partir de um xixi no elevador. Nojento, mas pelo menos te serviu de inspiração (: e deu um final interessante pro conto.
Tenho visto seus tweets sobre médico, ficar doente e essas coisas, espero que você melhore logo!
Beiiijo

Amanda M disse...

CREDO HA nem comento esse post x). Eu não sabia que tu tava doente assim.. meu irmão tirou as amigdalas quando era menor mas depois disso engordou muito (agora, adolescente, que ele resolveu emagrecer... todo vaidoso), então cuidado com isso. Te prometo tentar mudar a medicina de São Luís, beijossss (como se desse HAHAH). Vamos marcar de sair quando tu ficar melhor? Meu namorado conhece tua irmã, vamos nós 4 ao cinema ou algo do tipo? Melhoras :)

Anônimo disse...

Lú, gosto de todos os textos que você escreve no blog. Mas este, em especial, é com certeza meu preferido: MUITO MUITO bom.
beijos!
MEL