Quando conheci a Márcia* há cinco anos, ela era uma garota gordinha, baixinha e que não sabia combinar roupa. Nós tínhamos onze/doze anos e era o primeiro dia de aula da 6ª série. O que me chamou atenção nessa menina foi o jeito extrovertido, alegre, espontâneo. Ela falava alto, não tinha papas na língua e, ainda por cima, se apaixonava fácil, fácil. Tinha como não gostar dela? Além disso tudo, ela tinha muita força de vontade. Lembro que, na sétima série, suas duas primeiras notas em matemática foram 3. Em compensação, disse que recuperaria os pontos e tirou 10 nos outros dois testes.
O tempo passou e, hoje em dia, ela continua baixa e até um pouco gordinha. Mas aconteceram mudanças. Algumas boas (agora ela se veste bem) e outras ruins. Márcia ainda é extrovertida, mas já não tem aquele brilho que percebi nela quando nos conhecemos. Ela adquiriu uma das piores manias: a de se lamentar. Quando tira nota baixa em uma prova, não tenta se recuperar com a avidez de antigamente. Sim, ela perdeu a admirada força de vontade. Não se move a estudar o bastante para passar nem na federal daqui e muito menos na federal de um interior de São Paulo, para onde poderia se mudar com a mãe no ano que vem.
A minha ficha caiu quando nos atrasamos para a aula de um professor que é nosso amigo e que não reclamaria do nosso atraso. Ela se recusou a abrir a porta, falou que não tinha coragem. Para onde foi a Márcia atrevida que conhecia? Sem acreditar que ela tinha dito aquilo, abri a porta e pedi licença. "Não te conheci assim", falei para ela quando chegamos aos nossos lugares.
*Nome modificado. Vai que alguém por aqui a conhece.
p.s.: Fizeram um mapeamento para a minha sala. Deixaram-me no meu lugar mas tiraram todas as minhas amigas de perto de mim! Inclusive a Márcia. Agora, do meu lado senta uma louca que não entendia porque 10² era 100 e atrás de mim, uma garota que não pára de falar.
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