25.12.10

O relógio da parede de vovó

Minha família tem essência feminina. Vovó teve oito netas e já tem duas bisnetas. Nossas reuniões sempre foram idênticas: brincadeiras das netas num canto, conversa das tias no outro e a presença masculina, quando tinha, era o marido de alguém. Crescemos, a maioria entrou na faculdade, as cariocas continuaram não vindo para as confraternizações de fim de ano porque era muito longe e por aqui paramos de organizar concurso de canto (na última edição, apresentei Aquarela de Toquinho) ou apresentação de dança com o bambolê do Tchan. Num certo Natal, todas ganhamos aquele bambolê colorido e desmontável do Créu dos anos 90. O que continua é a oração. Ah, a oração.

Tia Luda era católica, virou evangélica, algumas opiniões mudaram, mas a tradição é a mesma. Hoje depois da troca de presentes do amigo invisível, começou o burburinho. Será que vamos ter que segurar a fome por muito tempo? Vamos derreter na cozinha esse ano? "Olha, só vou fazer a oração porque vocês insistiram!". Leitura de uma passagem, foram dois versículos da bíblia essa vez, e sempre, sempre um discurso sobre o que estamos celebrando na data e as tendências pagãs que a festa ganhou com o tempo. Pior que ela nunca se repete, dá um jeito de passar uma mensagem diferente, mas talvez pela falta de assunto hoje ela falou pouco se comparado com martírios que já vivi, de passar trinta minutos olhando pro peru, pra farofa, pra salada e pra lasanha especial de mamãe enquanto titia fala e fala e fala.

O relógio cantante é outro que continua pendurado naquele bairro antigo da cidade. De hora em hora, canta uma música diferente e, em seguida, imita as badaladas de um relógio antigo para nos informar o tempo sem que tenhamos que olhar para ele. Com a baladinha mecânica, lembrei das tardes quentes brincando de barbie com as primas. Já meu padrasto e meu cunhado se assustaram, no meio da oração, com aquele barulho que parecia inaudível para os outros.

Temos a oração, o relógio, mas a família estava menor. A parte macapaense estava no seu devido lugar, o meio do mundo. Em compensação, batemos record de testosterona naquela cozinha. Quatro rapazes! ... e as nove mulheres. Feliz natal!

4 comentários:

Anônimo disse...

curti muito essa leitura de sua passagem de natal, você tem uma escrita suave e agradável de se acompanhar.

realmente tentar juntar cariocas com macapaenses é fisicamente muito trabalhoso, ainda mais em floripa, não se culpem por isso.

engraçado, um relógio antigo que não precisávamos olhar a hora, como uma solução dessas se perde no tempo?

Mel disse...

família grande... delícia!!!!!!!! A minha está toda no sul, em Joinville. Dá uma saudade.... aiaiai.
Lú, Feliz Natal!!!!!! Muita paz, muita LUZ, muita SAÚDE e sobretudo, muita inspiração!!!!
beijos

Anônimo disse...

Agora que li esse teu post, percebi que só temos dois homens na família, contrapondo sete mulheres.

Mas sim, nunca vi um relógio desses. Consigo imaginar algo, mas me parece uma criação de Lewis Caroll!

Feliz Nata, Luh :)

marcela disse...

Por que natal é isso mesmo: família. Daforma que for, da distância que for.
Feliz Natal, querida!