27.12.10

They are just kids

O melhor jeito de ganhar livros é quando você sabe que a pessoa entrou na livraria sem nenhum título em mente e foi passeando pelas estantes, lendo orelhas, contracapas ou páginas aleatórias até que encontrasse o certo. Uma história contada por uma poeta, cantora, artista de mil faces e até jornalista sobre a relação que teve com um fotógrafo homessexual. Ela, Patti Smith. Ele, Robert Mapplethorpe. O cenário? Nova Iorque no final dos anos 60 e início dos 70.

A leitura foi quase um lembrete da minha irmã "Não esqueça que você quer morar lá um dia!" junto com as lembrancinhas nova-iorquinas que mamãe trouxe - a mudança dela chegou lá por setembro, mas tinha que vir à São Luís receber minhas coisas.

Tanto Patti quanto Robert foram bem loucos para NYC porque queriam ser artistas. Patti vinha de uma família pobre, passou um tempo dormindo na rua e tentando arranjar algum emprego. Robert era de uma família católica bem estabelecida e foi pra lá estudar design gráfico numa boa faculdade, mas abandonou porque queria ser pintor e ponto. Assim que se conheceram, trataram de morar juntos e a longa relação deles começou. Uma relação que não pode ser simplificada como meramente romântica. Li numa crítica da Folha que nesse livro Patti declarava seu amor por Robert, isso é um absurdo. Eles se complementavam muito mais como artistas e como pessoas do que tinham essa relação amorosa forte.

Realmente nunca tinha ouvido falar de nenhum dos dois antes de ler Só garotos. Vai dizer que a tradução de Just kids não ficou pobre? Pois é, Robert Mapplethorpe foi um fotógrafo de tema homossexual e erótico, sem querer chocar o público, apenas queria transformar aquilo em arte. Gostei que ele começou com uma polaroid e se manteve nas instantâneas porque não tinha paciência pro processo de revelação. Patti Smith foi reconhecida pelas poesias, mas deu certo mesmo como cantora. Ela é uma mulher inteligente, viciada em Rimbaud, fixada em Brian Jones, que tinha certa atração por Jim Morrison do The Doors e que valorizava demais o trabalho de Robert.

O livro acaba por retratar uma época quando uma passagem de metrô em NYC custava apenas vinte centavos e que a luta em ser reconhecido como artista era muito forte. Ainda mostra personagens como Jimi Hendrix, Janis Joplin, Salvador Dalí (que falou à Patti que ela parecia um corvo gótico, no hall do Hotel  Chelsea) e Andy Warhol.


Só garotos chama atenção por três aspectos: a riqueza da narrativa de Patti, mostrando cada detalhe, explicando como cada acontecimento tinha levado a outro na vida dos dois, contando histórias por trás das músicas e poemas que ela escreveu, das fotos que Robert tirou. As fotos belíssimas que estão ali no meio das páginas, às vezes ocupando uma página inteira com legenda e um espaço grande em branco, outras no meio do texto, sem explicação alguma. Isso mostra como imagens podem deixar um livro mais gracioso mesmo que ele não seja ilustrado propriamente dito. A diagramação fica muito melhor assim, ainda mais num livro de memórias. Em várias biografias, o que a gente vê são páginas num papel melhor com fotos de festa, sem graça, todas reunidas. A minha preferida foi essa da pena, acho que tirada pela irmã de Patti, Linda, numa viagem que fizeram à Paris. Por último, Só garotos impressiona pelo próprio estilo da autora. Logo nas primeiras páginas, dá pra reconhecer o talento dela em te envolver na história, te fazer amar Robert junto com ela e viver todo o clima artístico de Nova Iorque nos anos 70, principalmente.

7 comentários:

Eu disse...

Te imaginei num café falando desse livro, as passagens; gostei muito da leitura. Agora fiquei com gostinho de ler.
Beijos Luh.

Rúvila Magalhães disse...

Há um tempo atrás ouvi umas músicas da Patti, ela tem uma voz incrível! É uma boa dica de leitura :D

beijos

Larissa disse...

Luisa, há um tempinho não venho conseguindo acessar seu blog com o meu login do blog; hj deu certo, mas normalmente aparece que não tenho permissão para ler! Será que tem como vc liberar?! Quero saber das suas férias e de como está Maranhão!!
Bom fim de ano!
Beijos!

Vanessa disse...

Certamente este é um ótimo presente. Eu já tinha ouvido falar da Patti Smith por ela ser cantora, mas não lembro de já ter ouvido o nome Robert Mapplethorpe. E adoro livros com fotos na medida certa!

Marcela disse...

não conheço muito o trabalho da Patti como cantora mas deu vontade de ler o livro pq adoro biografias! E a história parece ser mto legal. Bjão!

Marcela disse...

não conheço muito o trabalho da Patti como cantora mas deu vontade de ler o livro pq adoro biografias! E a história parece ser mto legal. Bjão!

Ana Luísa disse...

Nunca tinha ouvido falar desse livro, mas parece interessante. E eu também amo pensar uma pessoa rodando na livraria e lendo sinopses atrás de sinopses para achar um livro que seja a minha cara =]
Beijos Lu!