29.4.08

Paixonite 'antiga'

Atrasada como de costume, Joana chegava atrasada no reencontro da sua turma de terceiro ano da escola. Ela não via a maioria daquelas pessoas há dez anos quando se formaram, com exceção das amigas que fizeram parte do seu grupinho no colégio. Elas sempre se encontravam quando Joana passava férias na cidade. Ansiosa, não via a hora de entrar logo na casa de Beatriz, que organizara a festa, e reencontrar todas aquelas pessoas com as quais convivia 50 horas por semana. Aquele nerd preocupado com nota, o magrelinho que ficava escutando sua conversa e, principalmente...

- Fred!

Ele instantaneamente tirou o celular da orelha e foi falar com a mulher que se aproximava. Mas não antes dela perceber que ele não usava aliança alguma.

- Joana, tu estás diferente demais, a não ser pelo fato de me chamar de Fred.
- Eu já disse que tu não tens cara de Frederico! E tu estás totalmente diferente do que eu imaginava. Pensava que estarias careca!
- Ainda bem que resolvi contrariar a minha natureza.

Risos. E silêncio. Aquele silêncio constragedor durante o qual duas pessoas se olham sem saber o que falar.

- Então, Fred, eu interrompi tua ligação e eu preciso falar com o resto do pessoal. Depois a gente conversa mais.

Ambos passaram a noite pensando um no outro, como já era de se esperar. Quando Joana mudou de turno e passou a estudar com Fred, sentiram um interesse mútuo que foi dissipado quando ela começou a namorar com um colega de turma deles. Fred lembrava daquela adolescente que ria e gesticulava o tempo todo. Joana se recordava daquele garoto alto e um tanto desengonçado que era considerado esnobe por muitos. "Ele nunca foi esnobe comigo", ela costumava dizer. No fundo, ela sabia que aquele rapaz era um cara charmoso em potencial.

Depois do jantar, quando Joana caminhava na direção do terraço, Frederico a puxou pelo braço e ela percebeu que ele ainda não aprendera a controlar sua força. Ainda a segurando, falou bem baixo:

- Não consegui parar de te olhar a noite toda.

Silêncio. Joana nunca fora boa em dar respostas rápidas.

- Joana?
- Hum?
- Você quer sair pra lanchar comigo?
- Tá, pode ser.

Então eles saíram da festa sem que os vissem. Mas eles tinham acabado de jant...

- Jô, me empresta aquela tua caneta roxa?
- Aaan?
- A caneta. Roxa.
- Ah, pega.

"Caramba, Mari, eu tava viajando aqui. Distraidinha.", pensou Joana. Olhou aqueles ombros largos na sua frente. E o professor de química falando sobre soluções."Não vejo a hora do reencontro da turma em 2018." E riu.

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