26.9.08

O Vôo da Guará Vermelha

Maria Valéria Rezende

Irene saiu de casa ainda moça e, sem ter completado os estudos, passou a ganhar a vida como prostituta. Não se prevenia enquanto trabalhava e acabou engravidando. Uma velha conhecida cuidava de seu filho e, assim que podia, ajudava-os com dinheiro. Quando já não era mais bonita, contraiu AIDS.

Rosálio nasceu num povoado isolado. Seu pai era um forasteiro que não o assumiu e sua mãe se matou antes de lhe dar um nome. Ninguém era alfabetizado onde ele morava, mas sonhava aprender a ler e escrever por ter herdado livros de um viajante.

Já na cidade grande, certa noite, Rosálio foi cliente de Irene por engano. Ele não tinha dinheiro para pagar e só pôde oferecer à mulher as suas palavras, suas histórias. Ela já tinha perdido as esperanças de ser feliz e sentia-se cada vez mais perto da morte. Através de seus contos e causos, o homem enchia de cores a vida dela, que lhe retribuía ensinando-o as letras.

Todos os dias, o ajudante de pedreiro e a mulher da vida se encontravam na casa dela. Ele contava sobre sua vida ou algo que tinham contado a ele. Ela li o livro Mil e uma Noites ou lhe mostrava como escrever o próprio nome.

A partir daqui, contém spoilers. Só pra avisar.

Até que a obra na qual Rosálio trabalhava estava quase terminada e ele seria dispensado do serviço. Decidiu, então, ganhar o sustento fazendo aquilo que mais lhe dava prazer: contar histórias. Irene também foi à praça onde ele exerceria o ofício e presenciou o sucesso do companheiro.

No dia seguinte, enquanto o ex-empregado ia ao sindicato receber seu último salário, a mulher, feliz e distraída, atendia a um cliente. Não reparou nas pistas de comportamento violento que o homem loiro apresentava. Por querer protegê-lo da sua doença e usar preservativo, foi espancada e sangrou em sua cama até perder os sentidos.

Quando chegou, Rosálio encontrou a sua guará vermelha morta. Sabia que deveria continuar o que começara no dia anterior. Não haveria teto que impedisse a sua amada de continuar ouvindo-o.

p.s.: Resumo que a minha professora de redação mandou fazer. Mais uma leitura para a UFSC.

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