13.7.09

Queria só uma vez

Sempre quis ir ao cinema sozinha. Até o ano passado, eu tinha a mania de falar durante o filme. Feio, eu sei. Mas era uma vontade incontrolável: eu me sentia obrigada a tecer determinado comentário ou fazer alguma pergunta. Disse que "tinha" essa mania porque acho que a estou perdendo. Quando assisti A Era do Gelo 3 com meus amigos da faculdade, só falei uma vez.
Hoje não consegui acordar muito cedo (minha ideia de não dormir não funcionou, como sempre), mas não perdi a hora do cartório, presenciei uma senhora reclamando horrores por estar esperando para ser atendida, sendo que muitos funcionários de lá estavam em horário de almoço. Almocei comida de verdade como há muito tempo não fazia, descobri que não existe Sedex 10 para São Luís (por motivos óbvios), deitei pela primeira vez no puff da Biblioteca Universitária. Já parou para pensar em quantas pessoas suaram naqueles puffs antes de você deitar lá? Pois é, relevei minhas frescuras e deitei. Tive que ir ao Iguatemi para comprar crédito, um tênis e um biquini. Dez minutinhos andando e lá estava eu no shopping. Faltava mais de uma hora para a sessão de Jean Charles começar e eu pensei "É hoje!". Já queria ver esse filme há um tempinho e ainda realizaria meu sonho de ir ao cinema sozinha.
Minutos antes da sessão começar, entrei na sala e percebi que devia ser a menor de todo o cinema. Ainda sim, fiquei toda abestalhada com a altura da última fila de cadeiras, é bem maior do que a do cinema de São Luís. A diferença de altura entre duas fileiras também é maior. Reparei também que meus únicos companheiros de filme eram dois namorados. Só quando sentei é que lembrei que era uma segunda-feira à tarde.
Assisti ao filme, não vi o tempo passar, não queria que o Jean Charles morresse e quase chorei nas cenas após a morte dele. É, quase. Na verdade, eu nunca chorei assistindo nenhum filme. A primeira vez que chorei assistindo alguma coisa foi no começo desse ano, na maratona de Desperate Housewives, na cena que a Bree chora a morte do marido. Ela sempre foi minha Desperate favorita. Derramei uma ou duas lágrimas, mas, ainda assim, não chorei vendo nenhum filme. E meio que me sinto incompleta por isso. Primeiro porque não chorar para mim significa ficar com as lágrimas entaladas durante as cenas tristes, o que me deixa muito angustiada. Seria bem melhor derramar rios pelos olhos, lavar a tristeza causada pela história e seguir adiante. Mas não, ela, a tristeza, continua dentro de mim. E se junta com tristezas de outros filmes. O Baiano de Sob Nova Direção desesperado com a morte de Jean Charles, a morte de Joaquim em Os Desafinados, o pai da garota que sai de casa em Quatro Amigas e um Jeans Viajante... E eu esqueço que essas tristezas são alheias e as deixo juntas com as minhas próprias.
Lembro de um filme que assisti na aula de Espanhol da oitava série. O filme era Amores Perros e, no fim, duas grandes amigas minhas estavam se acabando de chorar. Uma estava mais contida, mas a outra foi ao banheiro e não parava de derramar lágrimas. "Mas ele não conheceu a filha...", ela dizia com aquela voz chorosa e desesperada que não saiu da minha memória. Hoje, quando lembro disso, sinto inveja. Queria chorar e ter crises histéricas, se fosse possível, pelos problemas alheios. Queria só uma vez chorar e chorar e chorar até que as tristezas alheias se misturassem com as minhas e eu esquecesse a razão inicial de estar chorando.

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