- Tia, você não está me achando gordinha?
Não contei quantas vezes ouvi essa pergunta durante as semanas que minha prima do Amapá passou aqui, mas foram muitas. Minha família por parte de mãe só tem mulher, falo sério. Vovó teve seis filhas, oito netas e já tem duas bisnetas. Das sete netas (prefiro me manter fora da análise), todas são bonitas. Algumas têm o corpo mais bonito, outras menos. Uma é magra e alta demais, duas engordam muito fácil, outra sonha em colocar silicone e outras duas são baixinhas. Sobrou uma: a que ficou hospedada na minha casa. Sabe aquelas meninas magras que tem o corpo tipo violão e podem comer tudo sem ganhar peso fácil? É ela.
Todas as vezes em que ela estava se arrumando para sair, dava um jeito de comentar que estava comendo muito e precisava urgentemente voltar a malhar. Em seguida, alguém falava que ela tinha um corpo perfeito e não precisava fazer nada! Minha prima ainda retrucava, dizendo que a “barriguinha” que ela tinha a incomodava. O alguém ainda continuava, dizia que ela não tinha barriga nenhuma.
Esse diálogo forçado não passava de uma tentativa de levantar a auto-estima dela. Apesar de ter o corpo todo bonitinho, talvez ela não aceite o cabelo (que ela precisa alisar) ou se incomode demais com as manchinhas que tem nos ombros, rosto e pernas. Percebi que ela tem essa necessidade de se reafirmar sendo bajulada. Quando estava pronta para sair, perguntava se estava bonita. Eu concordava discretamente para não desapontá-la, mas alguns soltavam elogios forçados que a deixavam radiante. Receber um elogio espontâneo quando você passa pela sala para beber água é bem mais gratificante, tomara que ela descubra isso logo.
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