13.10.07

Bel Canto

Em algum lugar da América do Sul, na residência de seu vice-presidente, a soprano mais venerada do mundo da ópera canta na festa de aniversário em homenagem ao poderoso empresário japonês Hosokawa. O anfitrião espera que o titã da indústria seja seduzido a construir uma indústria no seu país. Roxane Coss encanta os convidados internacionais com sua voz. É uma noite perfeita — até que um bando de terroristas armados toma a festa inteira como refém. As negociações vão e vêm, alternando-se os termos e as demandas, e os dias tornam-se semanas, as semanas alongam-se para meses.

# Quando se lê o resumo do livro, costuma-se pensar que ele causa uma certa agonia já que as personagens são reféns e que nós, leitores, desejaríamos que eles fossem libertos logo. Pelo contrário, com o tempo a gente passa a amar aquela rotina. A gente passa a amar a voz da Roxane e a acha bonita e sedutora e fica muito feliz quando ela e o Hosokawa começam a ter um caso. Sem falar no Gen (tradutor do Hosokawa que virou tradutor de todos porque lá estavam pessoas de todos os lugares imagináveis) que se interessa por Carmen, uma menina que tinha se fingindo de menino para estar no ''exército'' que seqüestrou todos os convidados daquela festa.

Roxane e Hosokawa. Gen e Carmen. Todo mundo estava tão feliz... As negociações das autoridades com os seqüestradores continuavam não dando muito certo, mas era raro encontrar alguém ali que não gostasse daquilo. Mais do que ter se acostumado àquilo, dá pra pensar que, no fundo, todos queriam continuar ali. Até que policiais resolvem invadir a casa e matam todos os seqüestradores. Hosokawa estava com Carmen quando os tiros começaram. Foram, juntos, ver o que era. Um policial reconheceu a farda de Carmen. Ele não sabia o que estava prestes a fazer. Nem sabia também quantas coisas poderia estragar com apenas um tiro. E atirou.

"Roxane os viu no mesmo momento em que o homem com a arma os viu, em que Carmen viu César, e que o sr. Hosokawa viu Carmen e a retirou do espaço à sua frente, a força do braço dele atingindo um lado da cintura dela como uma explosão. Postou-se na frente dela no mesmo instante em que a estava jogando para trás de si, no mesmo instante em que o homem, que a tinha visto na frente, separada do sr. Hosokawa, disparou o tiro. A dois metros de distância não havia probabilidade de não acertar nela, a não ser por causa da confusão, o pipocar das armas, o frenesi das vozes, e o homem que estava na sua lista para ser salvo dando um passo na frente dela.''

E, no final, Hosokawa morto. Roxane com Gen. Não me lembro se falam o que acontece com Carmen, mas acho que não. Isso tudo por conta daquele homem com a arma. Na verdade, por causa de todos aqueles homens com armas. Não custava nada os reféns terem permanecido reféns... pra sempre. Porque sempre tem alguém que chega só para estragar tudo.

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