9.2.08

O Cravo e a Rosa

(Parte II - 1978)


Uma semana antes do dia dos namorados, uma pequena livraria chamou a atenção de Rosinha que voltava da aula acompanhada de sua irmã, a que tinha a idade mais próxima da sua. Apesar da farda desconfortável e do sapato apertado herdado de uma das irmãs mais velhas, Rosinha era a caçula, resolveu parar e entrar. Ana Lourdes sentiu a falta da irmã ao seu lado e entrou na livraria atrás desta, falando:

- Rosinha, o que tu tá fazendo aí? A gente vai acabar se atrasando pro almoço e mamãe vai brigar!
- Luda, espera um pouco. Tô só olhando esses cartões.
- Não importa, vou logo andando. Depois você me alcança. – disse Luda, impaciente, saindo da livraria em seguida.

Rosinha não se abalou com a grosseria habitual de Luda e continuou olhando os cartões com poesias famosas. O que mais lhe agradou foi o Soneto da Fidelidade de Vinícius de Moraes. Então pagou pelo cartão e saiu correndo atrás de Luda para alcançá-la.

[...]

No dia dos namorados, Rosinha tinha combinado de se encontrar com Fábio na frente da casa dele. Foi para lá que ela foi após tomar banho depois da escola e pôr um dos seus vestidinhos mais bonitos. Ela já tinha doze anos, mas ainda possuía aquela beleza infantil.
Na metade do caminho até a casa de Fábio, viu que ele estava encostado no muro da frente, esperando-a. Seus batimentos cardíacos se apressaram e ela ficou visivelmente nervosa. Parou, respirou fundo e seguiu em frente.

Ao olhar Rosinha, Fábio sorriu e, assim que ela chegou suficientemente perto, falou:

- Rosinha, vamo entrar que teu presente tá lá dentro.

Rosinha não disse uma palavra, apenas consentiu com a cabeça. Fábio a conduziu para seu quarto e, quando eles entraram lá, disse que Rosinha estava linda, deixando-a tão vermelha quanto às florzinhas que estampavam seu vestido.

- Esse aqui é teu presente – disse Fábio, pegando um pequeno embrulho e entregando à menina.

Quando Rosinha segurou o presente, estava morrendo de curiosidade para ver o que tinha dentro e abriu rapidamente o pacote. Dentro da caixinha, encontrou duas entradas para aquela noite de Grease: nos Tempos da Brilhantina. Seus olhos verdes brilharam mais que o normal e Rosinha ficou radiante.

- Fábio! Eu tava querendo muito ir assistir esse filme! – disse, abraçando-o em seguida – Ah! Quase ia me esquecendo! Quando olhei isso aqui, achei a tua cara! – completou, tirando o cartão do bolso do vestido.

O garoto pegou o cartão e sentou em sua cama. Rosinha sentou ao seu lado e, juntos, leram o poema.

Soneto da Fidelidade
Vinicius de Moraes
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Quando Fábio terminou de ler, Rosinha já havia levantado o rosto e o olhava apaixonada. Ele se incomodou um pouco com aqueles olhos tão expressivos olhando diretamente para os seus, pensou no quanto amava aquela menina e no quão agradável era sua companhia. Antes que percebesse, seu rosto já se aproximava do dela e antes que entendessem o que estava acontecendo, beijaram-se. Encostaram suas bocas uma na outra e assim permaneceram durante alguns segundos. Ao se afastarem, ambos estavam ruborizados e não disseram uma palavra sequer até chegarem ao cinema Monte Castelo.

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